O outro lado

O que está do outro lado?
Não... não vás por aí...
Podes cair...
Talvez magoar-te
E não há volta a dar.

Sim. Talvez não haja volta a dar. A cada momento estamos a fazer escolhas. A tomar decisões. A abrir novos caminhos.

As nossas limitações condicionam as nossas escolhas. Fazem-nos optar pelo "conhecido", pelo "cómodo" e aparentemente seguro. Não se vivem tempos fáceis. Cada vez mais os recursos disponíveis escasseiam e as estratégias anteriormente usadas parecem não servir mais, deixaram de funcionar. E quando as necesssidades se tornam superiores aos recursos disponíveis instalam-se medos, angústias e desesperos e  busca-se por uma solução instantânea, de preferência solúvel que se beba e que resolva a situação. 

E quando o desespero se instala e a procura de soluções se torna "urgente", frequentemente disparamos para todos os lados à espera de alguma reação, uma resposta, a resposta, o milagre que solucione todos os problemas.

Hoje ouvi uma frase interessante "Quero ganhar dinheiro, com o minímo de esforço possível". E esta afirmação assim jogada pode parecer arrogante e leviana, mas pelo contrário, é de extrema importância e clareza. Tem a ver com foco, com o direcionar para o que importa. Não devemos estar em esforço, temos de nos empenhar e dedicar ao que importa, definir objetivos, traçar um plano que possa ser mensurável e adaptável para que possamos atingir o propósito.

Quando queremos chegar ao mundo inteiro acabamos por nos esquecermos de nós próprios, da nossa identidade, do que realmente importa, e até termos dificuldade em perceber o que faz verdadeiro sentido para nós, o que nos toca, o que gostamos realmente de fazer. E abafamos o nosso potencial. O que me dá realmente gozo fazer, quais as minhas competências, o meu valor acrescentado. Aí sim, está o meu verdadeiro contributo.

Concentramo-nos na ausência de algo e não na presença de. Quase como se não fosse merecedor de ser e de ter. Ah, e há sempre os culpados e as vítimas do sistema.  Bom, e muitas vezes, contra factos não há argumentos. Sim, porque é certo que há muitas famílias em literal falência, com contas a zeros ou a negativo. E o dinheiro ainda não cresce das árvores.

Fazer o levantamento da situação e prognósticos digamos que é o mais fácil. Arranjar soluções é que parece já não ser tão fácil e imediato.

Resta-nos então mudar os paradigmas. A forma de pensar perante a situação na qual estamos. E ver o outro lado.

Talvez neste momento estejamos a assistir a uma onda crescente de solidariedade e voluntariado na sociedade, um maior associativismo e "sinergias", a palavra da moda. Que seja, que vire moda, desde que seja para melhor.  Há uma melhor perceção que se consegue mais unidos e ligados do que sozinhos. E é claro que as mudanças não acontecem do dia para a noite. Há um percurso a percorrer e ninguém disse que iria ser fácil, mas também não tem de ser necessariamente difícil.

Depende claro está da abordagem de cada um, perante os factos que tem à frente. Eu acredito que tudo são aprendizagens para o nosso crescimento, para nos ajudar a sermos melhores pessoas. Por vezes não conseguimos perceber as aprendizagens que estão por detrás dos acontecimentos que ocorrem nas nossas vidas e por isso ficamos bloqueados em determinado ponto e parecemos não avançar. E os acontecimentos parecem bater todos na mesma tecla e até parece que vão piorando. Ficamos estagnados, parece que estamos num buraco e que ele está cada vez mais fundo, sem um vislumbre de que um dia conseguiremos sair dele.

Costumo usar uma frase "o que não tem solução, solucionado está". A pressão de ter que ter uma solução sempre pronta para cada problema que surge por vezes bloqueia, traz ansiedade, desconforto e dor, tudo menos a solução. Por isso abandono. É um abandono temporário, é assumir e aceitar que não tenho resposta, que não sei como abordar a questão, que não sei, nem tenho de ter todas as respostas para as situações que me ocorrem. E deixo-as em suspenso, acreditando que a resposta virá, a solução virá no tempo certo. É uma entrega à vida, rendo-me, acreditando que o melhor virá o meu encontro. Tem funcionado. E acima de tudo tem-me mantido no presente, no aqui e agora.

Perante a aceitação do mistério que a vida é por natureza e que não controlo as circunstâncias, apenas me posso concentrar na forma como lido com o que me acontece. Apenas isso.

Como me expresso, qual a linguagem que utilizo, se é assertiva e positiva, se sou benevolente, flexível e tolerante com o que me acontece. Que tipo de imagens mentais a minha mente alimenta. Que tipo de narrativa construo para a minha vida?

Focamo-nos demasiado lá fora. Com o que esperamos que venha até nós e esquecemo-nos de nos observar, de perceber como construímos os nossos pensamentos, que tipo de discurso temos conosco, quais as preocupações que alimentamos.

No outro dia tive a perceção de que me estou a preocupar demasiado com o dinheiro. A contar os tostões, a geri-los quase ao cêntimo e a racionar onde coloco cada cêntimo. É importante gerir os recursos que temos, sem dúvida. Mas apercebi-me que estava preocupada com a ausência de. Tenho de gerir, para que não falte. E com isto estou focada na carência, quando devia estar focada na abundância. E a pergunta que me faço é "Quero isto para mim?" "Estar a pesar se invisto aqui e que a consequência pode ser não ter para outros bens essenciais?" É sufocante trazer para mim esse tipo de registo. Mas inconscientemente era o que estava a fazer. É uma crença limitadora que não tenho os recursos necessários para a minha sobrevivência e que terei de quebrar e substituir por uma crença mais benéfica para o meu bem estar. Acreditar que tenho todos os recursos disponíveis e acima de tudo que mereço ter abundância.

Podem parecer apenas palavras, mas que têm a força de uma fé e de um acreditar que move montanhas. São as nossas verdades que nos movem para os caminhos que tomamos. Podemos ter consciência delas ou não. Elas continuam ainda assim a guiar o nosso caminho. A diferença é que o termos a consciência delas, sejam elas verdades limitadoras ou benéficas para a nossa evolução, nos ajudam a ter uma melhor perceção e atenção perante o que nos acontece, e a fazer os ajustes necessários para desbravar estrada.

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