Vulnerabilidades

Vulnerabilidades... inconfessadas até para  ela mesma. Olhar e reconhecer o que é frágil nela, o que é delicado significara o mesmo do que se expor às condições exteriores, à espreita, para que fosse abatida como um mosquito que sobrevoa a cabeça do seu hospedeiro à espera da pancada mortal.



Construíra à sua volta uma redoma de cristal para que pudesse tocar o mundo sem ser tocada, e assim protegida. Durante muito essa redoma garantiu-lhe a sobrevivência, mas sem que se apercebesse essa redoma foi derretendo com o passar do tempo. Ao tocar no mundo, começou a tornar-se permeável e a ser tocada também. Mas ainda que reparasse que algo estava diferente não se via.

Por vezes as suas fragilidades escapavam-lhe entre os dedos e mostravam-se. Ela conseguia ter compaixão por elas, mas debatia-se também. Queria livrar-se delas, queria resolvê-las para que desaparecessem. Outras vezes tinha pena dela mesma, queria deter-se aí, encolhida longe de tudo e de todos simplesmente recolhida no seu drama. E neste baile colorido rodopiava entre a guerreira e a mártir das suas debilidades.

No fundo queria ser perfeita e o constatar da sua imperfeição debilitava-a mais do que as suas próprias fraquezas. Qual a dor que lhe doía mais?A da fragilidade ou da frustração de se sentir um erro, e falhanço?

Era perita em dar-se pancada e a rebeliar-se da realidade inaceitável que se encontrava. E a vida foi-lhe fazendo convites vários para que se deparasse com a sua parte falível, para que dobrasse a sua altivez e rigidez. E a sua tez foi transformando-se, ainda que resistindo, foi aprendendo a baixar a guarda, a render-se, a não ter de provar nada a si mesma. Simplesmente deixar-se estar, ser.

Percebeu que morava dentro a ternura. E que tinha a habilidade de se poder acarinhar, tranquilizar e acompanhar-se em todos os momentos com doçura. Colocou a guerreira a dançar com a mártir, sem precisar de expulsar nenhum deles. Faziam parte dela  e queriam ser reconhecidos, abraçados.

E recordou-se que as vulnerabilidades estavam lá para que se recordasse da importância de amar, abraçar e acarinhar.

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