Uma página mais...



Uma página solta. Poderia assim falar de si... um átomo a mais que se acendeu. Não pertencia a nenhum livro, ainda que uma história lhe falasse da proveniência.

E ainda que a história dela falasse, da sua força, da sua raiz... e tanto dela estivesse contida nos seus genes... não tinha como se definir e prender.

E ainda que pudesse ser libertador soltar e não se prender... tanto de si se queria agarrar.... dava-lhe uma certa importância. Uma novela mais, um filme, um drama.

E aí podia alimentar-se de uma boa dose de culpa, e umas pitadas de vítima para que agarrada pudesse continuar a adiar a sua adultez. É que criança chora, pede mama e colo para não crescer. 

E tantas vezes o estar encolhida, na ilusão de uma certa proteção requer um "Cuidem de Mim"... para que não tenha de me fazer responsável pela Vida que escolhi  vir cá viver.

Sim. Escolheste!

Escolheste vir passar férias a este paraíso chamado Terra. E férias servem para descobrir lugares, pessoas, desfrutar, explorar, sentir... e confundiste isso tudo com trabalho e obrigação.

Conta lá.... quando vais de férias levas o entusiasmo por explorar, acordas cedo, traças o plano dos lugares que queres ir visitar, deixas-te ir pelo improviso, pelos encontros inesperados.... queres conhecer. 

E se a rotina te acorda e te impulsiona a cuidares-te, a cumprires uma ordem e disciplina, também te adormece. 

AUTÓMATO!

Solta a página, solta-te e deixa que o vento te leve sem destino... ou melhor que te leve a cumprir o destino. Aquele que sabe melhor o que é para ti.

Não te prendas ao caderno, não queiras ser mais uma folha, não te apegues à história que transportas. Que te sirva de inspiração, aprendizagem... para construíres a tua própria história.

E mesmo cada história que cries.... deixa-a ir. A partir do momento que já foi... deixa de ser. Deixa ir as impressões, as identificações. Que as memórias sejam fotografias, retratos de tantas vidas passadas que podiam até ser a tua ou não.

DESAPEGA!

Nada te pertence. Nem os abraços, os beijos, paixões e amores. Que nada te possua. Nem tu mesmo. Não te leves a sério. Faz por mereceres-te, mas não te mereças tanto a ponto de te perderes em ti mesmo, de ti.

E se vêm as paixões desenfreadas revitalizar-te e mostrar-te o que é o Entusiasmo deixa-te inebriar pela loucura temporária que te atravessa... e depois deixa-a que te recorde Onde estás, para que possas Regressar.

É que encontrar significa que perdeste, não sabias o caminho de volta, ainda que de ti nunca tenhas saído. Precisavas recordar. Que perdido estavas. E que havia caminho a percorrer... e continua a haver. Para que te possas levar sempre contigo... quando te pores a caminho.

E possas sempre ser a página solta de uma história por contar e recontar.

Diz que a criação é contínua... para quê então terminar a história e dar-lhe um fim. 

Se podes ser um livro aberto... para quê fechá-lo?

E se palavra também sou... como não expressá-la, dançá-la e dar-lhe música?

 

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