Seduz-me


Seduzes!

Como faço isso... diz ela, que nada faz a não ser ser ela mesma. Tinha a força de viver dentro. A alegria do sorriso, o samba no pé e a jinga no corpo. Chamavam-lhe fogo. E sim toda ela era fogo. 

Ensinaram-lhe a ser boa menina, bem comportada, quieta. E ela seguiu a regra. Uma mulher que expressa a sua sensualidade não é filho de boa gente (ahhh). Uma mulher decente não usa o vestido apertado, não denuncia as suas formas, não exagera no decote, não mostra o ombro. Não denuncia o seu corpo, não o revela, e não mostra o tornozelo.  Só não usa burka, porque nasceu no outro lado do mundo.

Toda a mulher leva uma cabra dentro e quer-se de preferência, bem escondida, para que ninguém perceba.

E claro está numa sociedade patriarcal, Deus, Pai e Família, em que o silêncio é pesado, como se expressa a liberdade?

E o que se contém e reprime ganha a forma da perversidade. A indústria da pornografia, a insatisfação... pois como permitir-se a explorar o corpo, os sentidos e o que vai dentro. É pecado, não é chique e bem.

E podia apenas falar da mulher que sussurra as suas necessidades e vontades meio corada e entre dentes, não sabendo bem se pode, mesmo entre amigas. Há tanto desconforto, pois que o tema do corpo sempre foi vivido na sombra do não falado, não se pode. Nem se conhece o seu próprio corpo. E o que mais dói é não se permitir ao prazer. E explorar o que corpo quer?! 

Ai... como?! O meu parceiro vai-me chamar louca. E se mostro que tenho mais fogo que ele a perversa sou eu... E o melhor mesmo é não falar sobre sexualidade e seguir por aí na vidinha... que esse tema não é de todo o mais importante e prioridade.

E Sexo é Vida! É a vida a correr nas veias. É a capacidade de criar, de nos fundirmos no outro, de atravessar catárses. De nos rendermos. De desligar a mente por segundos largos e comungar na Fonte.

Estamos tão habituados a carregar o corpo de Dor que nos esquecemos que também temos um corpo de Prazer. E que ele pode e deve ser explorado na sua plenitude. De forma aberta, disponível, inteira.

E temos que nos dar permissão. Olhar para as repressões e perversões. É que no seu extremo oposto o mercado criou a adição do sexo como a forma mais rápida de carregar baterias... e vamos, next... na ânsia de saciar o vazio que se leva dentro. E vai continuar a ser vazio enquanto não se abraçar. Ele vai continuar a estar. E são os vazios que nos abrem espaço para novas coisas entrarem.

Mas a fome de compensar friamente com a ilusão de um calor fugaz, apenas aumenta o buraco que se leva dentro de uma dor que não quer ser olhada e atravessada.

No fundo todos procuramos Amar e Ser Amados. E o desespero por ser amado faz com que se reclame o que não se está disposto a oferecer.

A complexidade do ser humano que se emaranha na sua própria teia e se demite da habilidade mais bonita que possui, amar-se a si próprio.

E claro que estar em si, em Amor.... seja em que circunstâncias for torna-te a pessoa mais sensual, sexual e bonita. Somos humanos e temos todas essas componentes. Estamos vivos e a vida corre-nos nas veias e é visível por quem passa. Para quê esconder essa vida?!

Não é por seres e estares bem nessa pele que irradia vida que te tornas perverso, cabra ou tarado. A vida não é para se esconder, é para se viver. E se algo em ti exagera... não excluas. Olha, observa. É um sintoma que te está a pedir para cuidares e amares melhor.

Essa é a melhor sedução que te podes permitir. Olhares-te diariamente com olhos apaixonados por seres cada vez melhor companhia para ti e teres orgulho na pessoa maravilhosa que se destapa para acolheres. E saberes-te novidade e descoberta em ti.

 

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