A que sabe cada passo?



O caminho é para a frente. Vamos. Há que continuar. Mas olhar para trás dá-nos uma perspetiva diferente e nova. Já não é a mesma paisagem pela qual passámos. 

O olhar já é outro e muda também o caminho percorrido.

Quem era eu antes de ir? Quem fui enquanto estive no caminho? E quem chegou a casa?

Não existe caminho... existe caminhar.

A intenção de ir para dentro fez-se em cada passo. E o facto de estar presente apenas no caminhar, sem antes, nem depois fez-me percorrer uma viagem dentro, que se manifestou fora. Nos sorrisos, no bem querer, na alegria, no contemplar, na emoção de bem querer, do abraçar, da generosidade sentida dos corações abertos, no respeito, na inclusão, na presença, na família, na cooperação. Na genuína vontade de ajudar.

Corações abertos partilham-se na presença, com palavras e nos silêncios. A diversidade, as diferenças são acolhidas... no Amor há espaço para tudo. Tudo inclui.

E a cada passo que te aproximas dentro, contactas com a imensidão que te percorre dentro. De que serve dizeres que és otimista quando carregas um mártir dentro, que se encolhe, vitimiza?

E quando te acercas essas personagens pedem para ser olhadas, apreciadas e que podem, que merecem desfrutar. Que têm o direito a estar. E que podem contemplar o bom caminho, o prazer, a leveza. E sim há a dor que relembra que há pés, que há piso, que há terra, que podes voar com os pés no chão. E que te traz para a presença.

E o convite é sempre para te habitares melhor. E ficar aí em ti. Com tudo o que vem. E permitir que a honestidade venha. O julgamento, os medos, as inseguranças. A inocência, a criança, a alegria, a contemplação. E os silêncios.

E o profundo respeito por se estar onde está. Por ficar onde se quer ficar. Por pedir ajuda, por revelar a fragilidade. E saber que está tudo bem. Que se cresce cada vez que se revela o que mora dentro.

E permitir o não saber, o desconforto, a surpresa.

E agora que cheguei... o que acontece?

Não há o entusiasmo da chegada, da superação. Esqueci-me de focar no objetivo... o que fiz mal?

E perante a surpresa do sentir permitir que ele venha para tomar contacto com ele. Sim cheguei.. mas o caminho continua. E tanto levo do caminhar. Como caminho. As cargas, a leveza, o olhar, a presença, a partilha.

E como tanto sentido faz a companhia, o acompanhar-me. A família, e estar em grupo. E há espaço para tudo. A relação e o relacionar-me, traz tanta liberdade.

A liberdade de poder ser o que se é. E saber que na diversidade todos enriquecemos e em corações abertos, tudo recebe e acolhe. E cada passo é um passo de amor. Um passo de proximidade. 

Entre o mar e a floresta, o grupo que cresce, a partilha, o afecto, a confiança. O suporte, a espera, o estamos juntos, o cuidar. E cada um dá o que tem, o que pode e nada mais é exigido, comparado.

E aprende-se tanto escutando. Escutando o outro e o que se passa dentro da mente. E no silenciar da mente e na presença, continua a aprender-se. E também na palavra que se diz, que sai de dentro continua a aprender-se.

É que cada passo é aprendizagem do caminho. Cada sorriso, cada lágrima. Há caminhar. Não há chegada, há caminhar e um caminho que se vai desenhando aos olhos de quem aprender a contemplar e receber melhor.

E tudo passa a ser um Milagre, a magia de viver em cada respiração que circula e movimenta corações.




 

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