Abnegação

Vi-me nua
Despida de todo e qualquer valor
Vi-me simplesmente

E nada tinha
para além de um corpo cheio de formas
Nem o senti meu
Sentindo que meu seria
Pede carinho e cuidado
Como se de uma cria se tratasse
que precisa de alimento a todos os níveis

Desprotegida na sua aparência
Apresenta o desgaste da vida
As marcas das alegrias e das tristezas
As solas dos pés apresentam o calo duro
De alguns quilómetros percorridos

E o sentir?! O sentir daquele corpo
que se emociona, que reprime
que explode
Tantas fantasias, tantos pensamentos
Tantas ambições

A vontade de ser, de chegar, de fazer
E depois o querer largar tudo
E encostar-se ao reconhecimento da obra feita

E assim olho e vejo esta paisagem
Que ora se desespera ora se entusiasma
Num carrossel que não pára

Abandono! Abandono tudo!
Nada importa
Nesta viagem apenas entrego
Entrego-me nos teus braços
E deixo-me guiar
pela tua vontade

Aquela que mora aqui
e que teimo em querer controlar
e deturpar
Pelo desejo de ser e querer mais
Não importa o que seja

Vontade! Caminha que eu sigo-te
leva-me para onde quiseres
O meu coração seguir-te-á!