Finalmente arranjara o tempo para se debruçar nas palavras e permitir que elas pudessem falar.
Toda a vida sempre falara delas. As mulheres da sua vida. As relações e ralações. Tinha muito vincado em si a figura Mulher. A matriarca, a forte, a sobrevivente, o Pilar, a mãe, a cuidadora, a progenitora, a chefe de família. A anima que anima, que recebe e enche a casa de sustento e abundância.
E o animus?
Escondido, subtil, apagado por esta grande força feminina que rasga, comanda e veste as calças. E esta força dadora não reconhecida fica à margem, à mercê que ela Mulher o veja e o inclua.
E ela já começara a olhar, e Olha cada vez mais com maior profundidade. De pedir perdão pelos maus tratos, pela arrogância, pela raiva e descarga despejada em cima.
Em tempos de feminismo, fala-se do resgate da Mulher. E eu falo do resgate do Homem, que também foi subjugado aos olhos da mulher como objeto de prazer e satisfação, como mão de obra para trazer o sustento para casa. Os deveres de fazer, dar, cumprir tornaram o Homem escravo dos desejos da mulher, de ter de saciá-la.
Homens que não se sentiram amados e acariciados pelas suas mães e que buscam toda uma vida por uma mulher que os veja e ame. Uma mãe também, que os abrace. E mulheres revoltadas descarregam também os seus traumas, tristezas e zangas nos parceiros conjugais e andam todos em grandes batalhas tácitas consigo mesmo, que escondem a sete chaves e que denunciam nas relações e nas trocas de comunicação.
E a revolta que tive com o meu ex- é descarregada neste novo companheiro, por não ter tido a capacidade de sentir, verbalizar e expressar as dores que silenciei. E mudos, calados seguimos reprimindo os sentires na ilusão de não querer magoar os egos. E no fim, adormeces com o teu inimigo dentro de ti, que pode explodir a qualquer momento à mínima erupção.
Que tristezas caladas te acompanham? O que carregas da tua mãe e do teu pai?
Já é tempo de largar as cargas e revoltas que não te pertencem...
Tenho compaixão por ti homem que te vejo diariamente a ser atacado por ela. E assistindo, percebendo que é uma história de consentimentos e permissões. Não te defendo que adulto és, mas quando me é pedida opinião, tiro por ti. Respiro-te e à tua zanga, não a compartilho. É tua, e é tempo já de soltar.
Honro e dignifico o masculino, o animus, que há em mim e fora.Vejo-te e honro-te. Somos diferentes, acrescentamo-nos e apoiamo-nos para crescer nas nossas diferenças, somos complementares. Recebo-te.
E perdoo e reconcilio-me com esse teu jeito desajeitado de autoridade, frieza e austeridade... percebo que são as armaduras, as defesas e vejo-te para além disso. Não precisas de mostrar que és capaz e válido. Não precisas de seduzir para mostrar a tua virilidade. Só precisas de Ser tu, sensível, vulnerável, transparente, sincero. Somos iguais, apesar da energia se manifestar em ondas distintas. É isso que nos faz ricos e nos acrescenta.
A ela que te maltratou perdoo... sou eu, apenas fugindo de sentir a minha própria dor. Já passou. E solto. Foste embora, homem, para que pudesses reconhecer a força que tens dentro. E uma vez reconhecida podes render-te e vulnerabilizar... estando em ti, está sempre protegida pela tua própria consciência e sabedoria.
A ti animus reconheço o poder da ação, do dia, da força solar que fertiliza e permite que a anima receba, relaxe e se abra à Vida.
Fonte de Água Viva! Fonte que és Pai e Água que és Mãe que se fecundem Vida. Se manifestem na matéria na forma e continuem sempre a criar novas formas.... existência.
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Cuspidelas