Quando o alvo, a direção está bem definida e a tarefa precisa de ser realizada ela tem dentro uma energia que se apodera e escava, concentra e avança. Derruba quaisquer obstáculos que lhe possam surgir. E a espera?
A espera não tem lugar... quando o caminho é para a frente. Paciência não era a sua caraterística mais forte, quando o temperamento era impulsivo. Antes sequer de ter tempo de pensar já tinha disparado.
E quanto mais disparava, mais energia se renovava para avançar e seguir para a frente. E assim multi-tasking vários focos, e fogos se apresentavam na sua direção para que desse vazão à sua energia inata.
E eis, que o tempo a fazia abrandar... aparentemente recolhida, a vida propôs-lhe aprender a Respirar. E ficar aí, respirando. Primeiro limpar o pulmão. Depois, aquietar.
Para depois voltar a recordar o que era movimento, inquietude, impulso, impetuosidade, tesão, entusiasmo, loucura. E voltar a reajustar o pulso, a respiração.
Sempre dissera, todos sabemos dançar. Não importa a música. Fecha os olhos e abandona o teu corpo ao ritmo que toca, e à medida que te entregas, a tua pulsação, o teu ritmo vai entrosando-se com a música que toca, de tal forma que já não sabes quem dança, se a música que toca, ou o corpo que se move.
E...
As músicas tinham tanta variedade, ritmo, tensão, intensidade... que as mudanças repentinas por vezes faziam-na tremer. Os ajustes nem sempre eram fáceis e por vezes os pés falhavam os passos e também se cansavam de tanto bailar.
Os convites também a desafiavam a parar, a pausar. E a permitir-se confortavelmente a estar aí. E a pausa ainda lhe sabia a espera. E as esperas por vezes pareciam demasiado longas... outras rápidas. E a paciência era uma virtude que lhe era pedida. Como uma gravidez que demora 9 meses a gerar uma vida até que esteja pronta para sair do corpo que a gerou. E nesse processo de criar vida, há um momento para permitir que nasça, que se desapegue e comece a seguir o seu próprio curso.
A mulher vem com esse chip. A capacidade de gerar vida, de pacientemente passar por todo o processo gestacional até chegar o momento de desaguar. E nesse silêncio algo cresce, e assistia à alquimia das formas a partir do seu corpo físico, emocional, mental e energético.
E mesmo que não seja uma nova vida humana... a mulher está preparada para atravessar esses processos gestacionais de transformação, alquimia e de gerar o novo. Não quer dizer que sempre se dê conta do que está a gerar dentro.
E nessa espera há caos, morte e vida . Tudo ocorre em simultâneo e por camadas e sabes o que tem de ser esvaziado nessa espera? A espera. Esperar sem esperar nada. Esvaziar a expetativa. Não querer preencher o momento a seguir com informação.
Manter o negro, o buraco escuro, a noite a imensidão de um céu estrelado e ficar aí... permitir que essa imensidão te inunde.
Que possas dar um passo de olhos fechados, pé ante pé, sem quereres saber para onde te leva, e ficares a saborear o prazer de cada sola do pé quando toca a terra e o movimento do corpo que te mobiliza a continuar a sentir com todos os sentidos o caminho.
E se achas que tem a ver com o Confiar.... enganas-te.
Tem a ver com saborear, desfrutar cada instante. A única coisa que tens de esperar é o próximo ciclo de inspiração e expiração.
E se vier pensamento.... e se esperares algo mais... liberta. Solta.
Para que continues seguindo em alegria de estares presente em ti.
Só tens de te dar conta que só há caminho... caminhante.
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Cuspidelas