E sentia a revolta, o choro, o desencanto de quem sofre pelas contrariedades que este palco sempre apresenta. É tão fácil estar de fora e observar o panorama e dizer "também isso passará". Saboreia o que vem, pergunta a cada circunstância que te impacta o que te traz para soltares e aprenderes...
Mas quanto isso pode ser ou parecer difícil quando se está enredado no filme e confundido com o próprio filme, a sentir totalmente a emoção e a desgraça na pele.
E sabemos que quando a dor vem é para ser sentida, e por mais que a queiramos arrancar ela demora-se o tempo necessário para que possamos escancarar a vulnerabilidade que mora dentro e olhar para os vazios que fazem parte de nós.
E também há beleza na dor, na sua magnitude, espessura, envolvência, invólucro e na expressão que nos toca. Entras noutra camada da tua pele, mais sensível, como se atravessasses a epiderme e as membranas que a envolvem e chegas à derme e vais sempre mais fundo. E nessa nudez e sensibilidade de ti mesm@ encontras. Há sempre encontros maravilhosos, ainda que possam parecer aterradores.
Recordo-me de situações limite de dor, desespero que atravessados me levaram a um novo estado de consciência, de paz e tranquilidade. De ser espetadora da minha própria experiência, sentindo-a na pele e apreciar a beleza do grito do dor, do corpo a contorcer-se. Há uma espécie de catarse, um orgasmo que irrompe, e que faz superar o estado limite, levando ao subsequente relaxamento.
E é preciso deixar-se morrer. Que a dor atravesse e consuma o que há para ser consumido e deixar que passe.
E vais superando-te...
A flor de lótus nasce da lama, e a bonita rosa é envolta de espinhos.
Agradecer às dores, aos sofrimentos é também soltá-los e seguir adiante. E agradecer é entender e apreciar que tudo esteve a cumprir a função para que nos transformasse.
O peregrino que vai na sua viagem não é o mesmo que regressa. O caminho que atravessa vai-lhe mostrando paisagens, facetas de si até então desconhecidas ou pouco exploradas e não há de outra do que encarar. Assumir as cargas que se transporta, pagar a portagem da travessia e honrar cada quilo da bagagem.
Retornar à origem é voltar a casa, à simplicidade, ao natural. E tantas camadas temos para despir.
Deixa a vida levar....
Vai semeando sonhos e abre os sentidos para que possas ir traduzindo os sinais que a vida traz e possas ir fluindo nas ondas que reverberam no coração. É o pulsar. É VIDA.
A vida sempre CRIA. É atividade, pede movimento e circulação.
É inspiração e aspiração. Já reparaste?
Deixas que a vida te leve e te surpreenda com o inesperado?
Faz o plano, prepara a viagem, treina-te. Fortalece o músculo, a resistência, a resiliência. Traça o mapa, a logística... e a seguir prepara-te para ser frustrad@. Para que a vida te desarrume, te teste, te derrube.
E se achas que é para te tramar... enganas-te. É para te AMar e para que possas Amar melhor.
E a tua rigidez precisa de ser quebrada, para que te dobres e possas render-te e humildar-te. Serás atirad@ ao chão as vezes que forem precisas... até que possas aprender a dar-te mão, a olhar-te no olho e dares-te alento. E receber-te como o melhor presente, a melhor companhia e casa que podias ser.
E na jornada vais emocionar-te tantas vezes.... porque ainda que saibas toda a teoria... na vida, ser humano é estar e viver na pele. Sentindo, amando, caindo, chorando, rindo, abraçando, beijando e correr o risco de ir, dizer sim, sem rede. E não, não é de qualquer maneira é preparares-te, fazer a tua parte e o coração vai-se aprimorando, cada vez mais caloroso vai cantando mais alinhado com a tua música e vibrando o que levas dentro. Quanto mais me destapo, mais me aqueço.
E a oração que eleva é a do coração que dança ao ritmo da vida e no silêncio permito-me ser guiada.
Deixa a vida levar-te.
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