"Sê o teu melhor abrigo no meio da tempestade." Fica no centro de um furacão." São algumas frases que chegam para nos recordar do "Mestre".
E esse mestre encontras dentro, no centro de ti. Procura o ponto, fixa-o e fica aí... observando. E que seja o ponto negro... para que não te distraias com as cores, com as luzes e elementos que levem a tua mente a divagar. Dá-lhe silêncio... dá-lhe espaço... dá-lhe nada. E aí ela poderá finalmente descansar.
E ser o teu melhor abrigo é seres a tua casa, estares em ti, habitares-te. Estares confortável no templo que vestes, no bife que reveste o teu esqueleto. E todo o folclore decorativo da mente viajeira, das emoções saltitantes e da energia bailona. E levares-te a passear com o pacote completo que se apresenta momento a momento. E tudo são identificações, tudo provisório, uma brincadeira.
E se te enredas no movimento perdes-te e confundes-te com o furacão. E estar no centro não significa estar parado... tu estás lá no furacão também, a rodopiar. E como na dança sufi desfrutas do giro. E se almareas cais, se continuas a girar há um ponto em que o teu eixo se fixa, se enraíza e daí estás presente a observar o filme do qual és também protagonista.
E navegas nas sensações... permites que elas te guiem, te denunciem, se abram e se mostrem. Tu és o baile, a dança.
Nada te define... nada te prende. Nada te pertence.
Nada és.
E aí circulas... rendes-te.
Porque tudo é experiência e tu és o explorador e a cobaia.
És a obra, o artista, as tintas, os pincéis... a emoção que te leva a esboçar, o tema que se desenvolve. És o motor, o motivo e o resultado.
Para no momento a seguir deixar de ser...
E à obra a que dedicaste atenção, cuidado, tempo e amor deixas ir, sabendo que não te pertence nem nunca te pertenceu. És apenas instrumento que dá Vida, que abre, gera, rasga, rompe. Desapegar das formas é abrir espaço para que outras possam emergir.
E as memórias são recordação, biografia, história que medem uma cronologia, o ritmo e a melodia de uma evolução... são origem, raízes, ponto de partida. Contém sabedoria, contém dualidade. E o potencial de expandir para outras possibilidades.
E para expandir é preciso escolher largar... o já adquirido, sabido.
Ser poema, sem estar identificado com o autor. E não querer também ser poema. Seguir a natureza da não intenção. E permitir que a música toque, a dança emerja e responder ao ritmo de cada compasso.
E no aparente abstracto, invisível a Ordem Manifesta-se.
Rende-te e ser-te-á mostrado!
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