Já se passaram 4 anos desde a última vez que subiu àquela corda. Levou um ano para conseguir subi-la.
Sou uma coleccionadora de histórias. E uma foto nunca é só uma foto. É uma imagem que contém memórias, contexto, som, cheiros... e que comunica tanto.
E hoje quero contar-vos a história dessa imagem. Em 2014 uma cirurgia à vesícula fez-lhe o convite para parar. Geria uma empresa, tinha um papel ativo na coordenação de uma cooperativa, dava aulas na escola profissional de Alte, organizava eventos na AWBN, estava empenhada no desporto e nas caminhadas ao fim de semana. nas horas vagas escrevia aqui e fazia sessões de reiki aos amigos e amigos dos amigos e sessões de coaching. E ainda tinha tempo para namorar e estar com amigos. Tanta gente lhe perguntava como conseguia fazer tanta coisa em 24 horas. Claro que se cansava, mas a adrenalina do fazer é uma espécie de adição. Ela era viciada em stress.
E depois de 6 anos de non stop sem se dar férias o corpo tinha de dar o alerta. Quebrou-se. E uma parte de si estava contente por poder descansar. E soube-lhe pela vida o mês de recuperação. Borregou, dormiu, viu séries de seguida, leu uma série de livros e facilmente se renderia à vida do fazer nada. Amou o sagrado descanso. E a seguir... ui, o seguir. Foi tremendo. Retomar à agitação, ao ruído, aos prazos, à correria. Apercebeu-se que não tinha saudades. Questionou o sentido de tudo. Porque corria ela?
E só quando paramos é que temos tempo para nos confrontar com os monstros e fazer as perguntas que nos abrem.
Porque corres tu? Qual é a tua direção?
Muitas vezes ouço e chega até mim as questões sobre o PROPÓSITO. A busca pelo propósito, pela missão, os dons e talentos. Para que sirvo, qual o meu contributo?
E são perguntas cabronas estas que nos aprisionam em gaiolas. Confundimos vocação com profissão. E apegados a formas, formatos e comparações enjaulamo-nos e fechamos.
Firmeza no que são os teus princípios, no que te move e flexibilidade na táctica e na estratégia. A tua voz tem uma ação, tom, ritmo, musicalidade. É o teu canto, e nele está todas as tuas habilidades em potência e que se vão abrindo à medida que caminhas e te abres em permissão.
A profissão são as formas que te vão encontrando para que manifestes os teus dons. Não são estáticas, são maleáveis e sempre em atualização. Essa é a também a magia da forma, está sempre a ser recriada.
Não importa o COMO, mas o QUÊ.
E em 2015 começava a receber as respostas ao seu questionamento. Para onde lhe levava a corrida?
A corrida estava a permitir-lhe descobrir as valências e habilidades que tinha dentro. De solucionar problemas, de unir pessoas, de fazer network, de ensinar, de cativar e motivar os outros a criarem, a superarem-se. YOU CAN DO IT.
E não porque ela tinha lido num livro bonito... mas porque ela era a prova viva de tantas provas superadas e sempre com mais por superar. E claro que perante um DESAFIO forte o que vem primeiro?
Não sei se consigo... mesmo que haja a vontade de tentar, a zona de conforto sempre te chama a ficar quiet@. A vontade de querer ir tem de ser maior do que as vozes do medo que te querem aprisionar. E mais vale morrer tentando como um/a herói / heroína... do que ganhar raízes no rabo sentada no sofá. (isto parece assim uma imagem à filme 😆, e quem és tu senão a personagem do teu próprio filme).
Voltemos à história da foto....
10 quilos depois aí estava em 2015 a treinar a um ritmo ainda de recuperação pós-operatório a tentar baixar o peso, com todas as tentativas e erros. E o mote certo para a ativação do foco foi a frustração de um fim de relacionamento. Era devolvida à sua existência, tinha de voltar a cativar-se na relação de si para consigo. E a dor traz um potencial tremendo de transformação. E ela revelou-lhe o entusiasmo pelo desporto, por cuidar-se e para Criar o seu Sonho, a Colher. As sínteses começaram a surgir e o fim é sempre um início... de uma NOVA VIDA!
E ia treinar e todos os dias olhava para a corda com vontade de a subir, mas não se achava capaz. Até um pouco impossível. E os outros diziam... é uma questão de tempo. Vais ver que vais conseguir. E aqui a impaciente, ou é já ou é já, achava que esse tempo nunca chegaria, pois não era no tempo dela.
O tempo que se dedicou a cultivar foi-lhe permitindo superar-se, alargar os seus limites, abrir-se mais à vida e confiar. Superação fala sempre ir além dos limites conhecidos. Ultrapassar a barreira do não consigo hoje.
Mesmo os recursos que nascem connosco precisam de ser praticados e treinados e abrir para adicionar novos e mais... para que possamos ir afinando este veículo físico, composto de tanta matéria visível e invisível.
O IMPOSSÍVEL É UMA MENTIRA QUE A MENTE GOSTA DE NOS ATIRAR À CARA.
Tornar possível é o caminho, o desafio, a aprendizagem, a construção do ser, a descoberta, o encontro, a reunião. Os obstáculos, as bênçãos disfarçadas.
Sete anos depois... encontra novo desafio, o peso carregado. A saúde física sempre encontra formas de falar connosco. E se largar o vício do tabaco te deixa mais limpa e saudável, o corpo intoxicado, sempre vai procurar outras formas de continuar a sustentar a adição.
E o caminho da superação faz-te sempre percorrer caminhos novos, atalhos e encarar novos espaços que te habitam dentro. E a única que pessoa que pode segurar a corda e suportar-te ÉS TU!
SEGURAS-TE?
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