Tantas vezes se punha à prova. Precisava de se desafiar.... e tantas vezes era o medo que a conduzia. Que a fazia mexer e sair do lugar. Tinha medo do medo. Que ele a paralisasse e não se conseguisse mexer mais. Sempre que se aproximava, ela movia-se e encarava-o.
De tanto olhar para o medo começou a desfazê-lo e tirou-o do pedestal. Continua a ter o seu lugar, mas já sem destaque. Percebeu que precisa de Desafio. Faz-lhe bem. Gosta da novidade, de se superar, de aprender. De estar no lugar do não saber e deixar-se ir.
A caminhar sempre descobre caminho. Apanha-se nas suas próprias mentiras, nas contradições. E também nas revelações do potencial e talentos. Sempre descobre que tem um coração maior do que achava e como ele parece sempre crescer.
Sempre se maravilha. E nessa maravilha renovava a vontade de continuar a explorar. Aprecia os milagres que recebe, os corações de gigante que encontra, que fazem tanto com o pouco que têm.
Há esperança? Claro que sim. Há tanta bondade por aí.... mas essa aparece em faces discretas, que tecem a sua obra em silêncio.
E encontro.
Mesmo nos desencontros, nas expetativas frustradas sempre há encontro.
Não há nada que não te regresse.
E tantas vezes parecemos tão longe. E as maravilhas parecem buracos negros, vazios em queda livre.
"Já não ouço as vozes. Já as sei mandar embora quando aparecem." a frase que saía da boca daquela jovem, como um comunicado. A sua expressão não era alegre, nem triste. E ainda que a assistente fizesse uma festa perante tal feito, e dissesse dá-me cá cinco, que isto precisa de ser celebrado. A jovem repete o gesto, e aí na atitude percebe-se um gesto tímido de vitória.
Reconheces as vozes? Sabes mandá-las embora? Conversas? O que te dizem elas?
O caminho de volta parece tantas vezes tão longe... outras escolhemos deliberadamente escapar, fugir. Queremos esquecer, excluir partes que gostaríamos até de arrancar.
Regressa.
É o pedido de socorro. De resgate. E para saberes que tens de regressar, vamos tirar-te o GPS, o tapete, as referências. Vamos pôr-te num carrossel a alta velocidade e pôr-te a espernear.
Só dessa forma podes sair do Loop.
E levarás o tempo que precisares na repetição, a girar no mesmo disco, até que decidas abrir os olhos e ver e sair da roda. O comando está em ti.
E tantas vezes a cegueira é a nossa melhor viseira e máscara para rodopiar ao som da música conhecida.
Tomar as rédeas é assumir a responsabilidade. É olhar para dentro. Isso é regressar. E ficar aí. E tomas da tua própria medicina - a tua presença, nutrição e amor.
No centro do teu círculo sempre te movimentas, numa grande espiral ascendente e descendente. A toróide que converge e diverge e sempre se movimenta. E tu permaneces numa aparente quietude que observa e participa, sem se deixar tomar e confundir com o movimento.
Nada a mudar. E regressar é permitir que tudo ocorra no seu ritmo natural. Nada há para controlar ou decidir.
Quando regressas a ti, e estás aí por um tempo, o olhar amplia-se, torna-se impessoal. Participas, mas não te abandonas nos eventos, nas pessoas, nas circunstâncias... sempre regressas a tua energia a ti.
Aí a clareza pode falar-te, pois estás no teu lugar. E a paz pode habitar-te, porque te assistes sem quereres definir-te... nem possuir coisa alguma.
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