As palavras há muito que pedem para sair, contudo andam tímidas navegando em folhas de papel, de cadernos de capa grossa. Também o cheiro do papel e da tinta chamam pelas palavras, para que se imprimam e sejam desenhadas.
E já mudou de dígito o ano. É só um número que virou, como cada dia que se esvai de fininho, sem que reparemos na velocidade do tempo, só quando a noite cai e pede para abrandar o ritmo é que a conta se dá.
Faz de conta que estou algures na última semana de dezembro, onde as palavras escorriam pelo papel fazendo o balanço de 360 e alguns dias passados. Do tanto aprendido, do novo que foi explorado, dos rostos, palavras, lugares. E sempre me estou a despedir e ainda agora cheguei. E já lá vão uns 40 anos. E tudo mudou, e continuará.
O novo sempre me move ainda que o procure. Provoca-me taquicardia das boas, e borboletas no estômago. E em 2022 trouxe-me muitas borboletas. Apresentou-me novos pisos, novos vôos. E sempre se redescobre a pessoa com quem vives.
Há sempre uma parte, todas as partes encobertas à espera de serem reveladas. Que possas olhar e reparar. Nada a negar, nada a reclamar e tudo a sentir.
Como saber se se tem coração?
Quando ele bate e te provoca e te emociona e te move do sítio. Só sei que nada sei. Dizia o poeta. E que bom permitir-me ser aventura e nada saber. E demover-me da arrogância do querer saber, controlar, medir.
E desmedida se apresenta a vida colocando-me perante decisões, limites em que o melhor para mim contradiz a ideia de ser boa pessoa, generosa e certinha. E quando se dá conta que o melhor lado é o do avesso. E redobra-se a coragem de ir e partir. E correr o risco de se mostrar.
Frágil, vulnerável, insegura, culpada e também valente de ir com isso tudo e rasgar-se por dentro e por fora. Correr o risco de se Amar apesar de tudo e com tudo.
E se cair apanho os cacos e volto a compor-me para mais à frente descompor-me e voltar a ser a melhor canção, edição, single, álbum. E todos os que passam, os que vêm, os que ficam, os que partem sempre entregam tudo o que preciso para crescer. Ainda que possam ficar dissabores, amarguras, mágoas, ficam as lições, o bom que sempre se mostra antes de se ter transformado em mau. E também as ilusões são sempre o melhor que podia ter acontecido para que novas ilusões possam seguir tendo lugar. É que as formas sempre buscam novas em que se tornar. E se os padrões caem novos podem surgir. Que a criação quer seguindo criando.
E nesta volta, neste carrossel vou dizendo sim, confiando, ainda que possa sentir-me atraiçoada, por vezes, não é pessoal. É para que aprenda a firmar-me mais nos meus passos. E a criar novas oportunidades. Sempre se ganha, ainda que a vida se vá esvaindo no seu tempo de validade.
E agradeço aos passos que levam de volta a mim, mesmo que nem sempre os consiga reconhecer. Sigo aprendendo e desacelerando. Não há pressa.
Sempre há onde cair. E que as melhores quedas sejam as que me regressem a mim.
Comentários
Enviar um comentário
Cuspidelas