Deixo-me percorrer pelas sensações. Pelas palavras, pelos espaços. E saborear o que vem sem catalogar, sem lhe dar pressa ou vagar.
A brisa quente, a calmaria branda de um vento que passa como um sopro lento. E acompanhando o ritmo que corre como as horas do relógio, como um sol que vai subindo no horizonte para depois voltar a baixar e colorir os céus de novas cores e padrões.
Caminho devagar. Já tive pressa. Escuto atentamente o peso do passo, o ritmo, a sensação para que possa ver o passo seguinte e assistir para onde me leva.
E na dança vêm os toques que despertam... que dizem não vás por aí.
Num tempo em que as cassetes já não tocam, ainda persistem as fitas gravadas na memória longínqua. Ecoando e reverberando nas repetições, em histórias dementes que só moram na mente e que atrasam o passo.
As muralhas invisíveis ocupam mais espaço. Estão lá e porque não as vejo continuo a esbarrar. E se repete e me dou conta, como não tomar a provocação?
Para que corte o padrão e lhe ponha uma nova história. Um novo final, uma nova linha, uma nova vírgula.
Libertar espaço.
E se ganho espaço recupero energia e mais fichas caem nas ligações que se fazem. E as raízes vão-se entrelançando umas nas outras e sufocam. Elas precisam de ser cortadas, podadas para renascerem.
Os códigos, as linguagens dependem do contexto, da cultura, geração e das lentes. Não é que um esteja certo e o outro errado, abrir horizontes é incluir a diversidade e situar-se no que é o seu código, a sua linguagem, mesmo que possa divergir do vigente.
Abrir e construir novos caminhos implica tantas vezes deslocar forças de o lado velho para um novo lugar. E romper o novo implica a coragem, a ousadia de arriscar o que ainda não foi feito, o que não tem estatísticas e certezas. Mas a força da fé.
Loucos são os que ficam no mesmo lugar e se esquecem que estão vivos.
E às vezes o passo ganha velocidade. Não que tenha pressa. Mas a vida invade de entusiasmo e pede garra. E eu vou acompanhando, como observadora e participante.
Escorregando, tropeçando, saltando, dançando, rodopiando.
E o passo cada vez mais firme. Vou acreditando, certificando que estou presente no balanço da vida, sem licenças. Mesmo que incomode, é por aí que vou. Para ser calma há que experimentar a tormenta.
É que a síntese dos opostos não serve ser teoria, mas experiência vivida, sabedoria na prática, em que se vai ajustando a dose ao momento imperfeitamente perfeito, mesmo a tempo de recolher a lição.
E usar as formas para dar utilidade às sensações e transformá-las em criações.
O tempo perfeito, aquele que acompanhas e te fazes presente.
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