Em arrumações...



Levamos uma vida inteira a acumular coisas, roupa, livros, revistas, tralhas... e eu aqui me vejo, perdida, no meu quarto minúsculo, com tralha que nunca mais acaba.Como é que eu juntei tanta coisa. Tantas memórias que contribuem para aquilo que sou hoje, que fizeram parte da minha história, me lembram do quanto já fui feliz e infeliz. Recordações que marcam grandes transições, conquistas e derrotas (olha que isto das derrotas é complicado assumir, pois acho que nada se perde, tudo se transforma, tudo são aprendizagens).

E olho para isto tudo e só me apetece jogar tudo fora.Mas quando me detenho mais um pouco sobre as coisas guardadas tenho pena de me desfazer delas. Não que me queira agarrar ao que não faz mais falta, mas para mais tardar recordar o que já fui e o que fez parte. No fundo são tudo vitórias que me permitem ser quem sou hoje. Só posso ter carinho por tudo,por todas as vivências, mesmo aquelas que pareceram ser sufocantes e que pareceram ser obstáculos intransponíveis.

Quero um quarto novo, quero tudo novo ;) Como um papel branco à espera de uma caneta para ser escrito, uma nova história, novas aventuras. Quero tanta coisa e não quero nada, quero apenas desfrutar... E isso é já é tanto, é tudo.

Quando deixamos entrar o novo, estranhamos, porque é fresquinho, é desconhecido. Mas até aí caramba, que somos complicados. Imaginem um quarto todo branco, bonito, limpinho, mas nós complicadinhos estranhamos tanto que queremos começar logo a pintalgar tudo, e a fazer novas histórias. Pergunto eu...tem mal?

Pois diria talvez que não,mas o problema são as expectativas que se criam dos filmes construídos, começamos logo a querer analisar a pintura feita nas paredes.

Queremos tanto viver que começamos logo a destruir essa vida ao querer controlá-la. E depois lá têm de vir as arrumações de novo para limpar os destroços deixados. E levamos a vida toda em limpezas. Sacanas que somos, temos sempre que arranjar sarna para nos coçarmos.

Eu só posso dizer que depois destas arrumações todas quero férias, férias de limpezas. Quero voar e saborear.

Comentários

  1. não podemos mesmo ver nenhuma paredinha branca... mesmo que não tenhamos nada para nela colocar em dado momento, o que interessa é colocar sempre alguma coisa! tal como não conseguimos encher de silêncio o próprio silêncio... porque o preenchemos antes de ruminações, pensamentos e outras deambulações mais ao menos desconexas.

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  2. silêncio, coisa bonita....temos sempre tanta dificuldade em nos silenciarmos. acho que no fundo nós gostamos da "pica" da aventura, queremos sempre mais, somos insaciáveis. eu agora só me apetece pintar as paredes brancas pá. quero fazer "estragos",ou melhor dizendo isto de forma positiva. quero coisas novas, quero pintar um quadro novo... quero criar qualquer coisa.

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