Desencontros



Entre nós não há barreiras. Há muito que tentamos dissimular sentimentos sentidos e que teimamos dizer não sentir. Cruzamentos inesperados, momentos combinados, sem conseguir premeditar o desfecho. A troca de olhares recíproca sempre deixou o rasto de "conhecemo-nos desde de sempre".É certo e inevitável, não vale a pena esconder. Batalhas travadas? Sem dúvida, num medir de forças em que ninguém ganha, não é possível, o sentimento está acima. Mas quando estamos juntos esquecemo-nos disso e continuamos no braço de ferro, na esperança triste de que alguém pode sair vencedor. Mentiras que os nossos olhares não reconhecem, pois transbordam de amor.

É complicado, digo eu agora. Em tempos disseste-me tu essas palavras que me custaram engolir. Tinham o sabor amargo da mentira. Dor? Sem dúvida. Aquela dor, da ligação que tenho contigo, de te ver sofrer e de te querer atenuar a dor, aquela dor que não é minha e que tu teimas em não reconhecer e eu teimo em querer partilhar contigo, como se te pudesse aliviar do teu sentir. Engano. Não posso dividir a minha vida com a tua, nem vivê-la por ti. Eu sei.

No entanto sinto-me presa, até explodir. Não me queres ouvir, mas eu solto, solto a dor. A lágrima desprende-se e eu deixo-a cair contigo.Queres fugir. Como eu te compreendo, eu também sempre quis fugir, iludindo-me, acreditando que a rosa não tem espinhos e concentrando-me só na beleza da flor. Mas amor, os espinhos picam, e fazem parte.Aceita isso.Eu aceito e aceito-te como és. És uma bela flor rodeada de espinhos, para que ninguém chegue até ti. E se somos espelhos, parte de ti sou eu.

Compreendo-te. Sempre. Sempre estarei cá. De que forma? Não sei, na minha presença ou ausência, foi o combinado. Somos diferentes, com toda a certeza, mas sei tudo sobre ti, sem que tenhas de proferir uma palavra. Sentes-te em casa comigo e eu sinto-me despida e descalça. Tocas-me sem me tocar e mostras-me o caminho naturalmente também. O respeito silencioso que acordámos revela-se nos momentos preciosos.

Estamos separados, mas já tivemos juntos, e estamos mais unidos do que nunca. Não se percebe? Pois será fácil de entender porquê: não há palavras que descrevam o que não se explica, mas o que se sente. Talvez isso torne mais difícil as palavras de saírem, pois o racional sempre tenta explicar.

Chorei contigo, ainda que as tuas lágrimas não tivessem caído, na aceitação da tua estranha forma de te amares. Aliviou-me, porque percebi que não posso chorar as tuas lágrimas,e confortou-me a confirmação de saberes que eu estou aqui e que a minha simples presença te conforta. Não precisa mais.

Aceito-te no pacote completo, com as tuas qualidades e defeitos. Amo-te do fundo do meu coração, e esse amor compreende e aceita-te como és. Julgar-te, já o fiz, mas hoje digo-te não sou capaz. Hoje só te consigo dar o meu amor. Sempre que caíres e precisares de ajuda para te levantar e chamares por mim, estarei aqui, para te ajudar a levantar.

Estranhamente pode parecer que estamos de costas voltadas, pois não compactuo com os teus desejos. Mas é no desencontro que te encontro plenamente :-)

Amanhã voltarei a amar-te, mas certamente será diferente. Como? Não sei... depois do dia nascer e de vivê-lo, talvez alguma resposta venha até mim. Até lá não sei, não sou adivinha.

Comentários

  1. Está giro o texto...agora aturar esse gajo deve ser cá uma carga de trabalhos!!!

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  2. ehhh... as coisas são difíceis quando não queremos aceitar e lutamos para contrariar. torna-se mais leve quando aceitamos as coisas como são. nem sempre é fácil, confesso.

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  3. Uma boa chinelada também resolve algumas coisas :)

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  4. Simplesmente lindo!! Simplesmente amor!! No seu mais pleno sentido. Na sua forma mais verdadeira, desprendida e despretenciosa!! É amor pois claro!! De que forma? Não sei também! Mas sei que tal como tu, poucos conhecem o amor verdadeiro. O amor que não tem limite, o amor que não egoísta, solta e liberta o ser amado para que possa ser feliz...mas também sei, infelizmente, tal como tu, quando numa troca de olhares cúmplice, de quem se conhece mais do que ninguém, algo parece não estar bem... vem a dor, vem a dor de quem renunciou por amor e descobriu que essa não foi a melhor solução...Ou talvez tenha sido, eu não sei??
    O caminho é longo...percorrê-lo-emos e entre labirintos e encruzilhadas nos perderemos...se tiver de ser encontrar-nos-emos para nos voltar-mos amar. Mas se mesmo assim não nos encontramos amar-te-ei de igual forma. De que forma?? Não sei...veremos ;)
    Tudo isto para te dizer que amei este texto.beijos.Ass: Lena

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  5. Belo texto sim senhora...mas já pensaste que este menino...está noutra.Afinal parece-me que estas a viver uma fantasia tua.parece-me que o sentimento que tens por este gajo é da tua cabeça, afinal se ele é assim tão ruím, porque lhe das tanto amor,porque o percebes tanto,porque continuas atras dele.Já pensase em deixa-lo viver...em deixa-lo respirar...simplemente em deixa-lo.Se já tiveram juntos e hoje não estão...se calhar não faleu a pena.Estas a viver uma historia que só tu sabes contar.Ele não merece o teu amor,a tua atenção,nem se quer o que escreves ele merece ler.Agora sim,cospe!1 cuspidela chega,nem merece muitas.da-lhe 1 bem grande,de uma vez por todas...e deixa secar, para deixar marca,e no futuro de lembrares do mal todo que ele te fez,porque sim,merece ser relembrado da pior maneira.despresar seria a melhor arma, mas não...o gajo tem de ser relembrado...pelo o que sentiste,pelo que passaste...Amor ou Odio?não interessa...caga nele já!Aprende a cuspir...é feio mas alivia.O que está tras...passou,morreu,espalhou-se no tempo.O passado é passado.Deixa esse gajo!este homen é como uma banana...nem os bicho lhe pegam...ao lhe tirares a casca,ve-se a sua podridão,ve-se que não é "comivel"...é para 0 lixo,e não deixes a casca no chão...porque ainda pode magoar alguem...mete tudo no lixo, em 2 sacos se possivel para teres a certeza que não saie de lá...não respires o cheiro dele tão pouco...certifica-te de uma coisa...po-lo no contentor certo...não o metas nos vidros, senão ainda alguem o terá de 0 mover...para outro sitio.

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  6. Sentimentos não se escolhem, simplesmente são como são. Libertar-me deste "menino", sem dúvida. Não que o procure, ele sempre entra quando menos estou à espera, parece-me que é mais ele que não se consegue libertar. Não será assim, sr. anónimo? belo comentário, muito inspirado também... escreves melhor do que falas. Estás também muito auto-destrutivo. Mas talvez percebas o que quero dizer com: cada vez que me liberto, lá vem ele que nem uma mosca impertinente, zumbindo de roda de mim. eu posso jogá-lo fora e tudo,como descreves, mas ele arranja maneira de entrar por portas e travessas. como por exemplo,comentando-se a si próprio... confesso, muito original :-)

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  7. simplesmente arrepiante, sentido!

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