Estar só e verdadeiramente acompanhado



Ontem apeteceu-me escrever, mas só consegui procurar a imagem para o post, contudo se não escrevi talvez o conteúdo não estivesse ainda pronto para sair. E esta tarde em conversa de café com uma amiga o tema surgiu-me noutra perspectiva. Julgo que é uma pergunta que todos nós em dada altura da nossa vida fizemos, o porquê de termos medo de ficar sós. Nós temos um medo tremendo da solidão, afecta a nossa segurança e buscamos como consequência inevitável o estar acompanhado. Seja rodeado de amigos, a busca de um Amor, a busca de qualquer coisa que nos preencha e nos faça sentir completos.

E procuramos incansavelmente esse estado de segurança e conforto no exterior, como se não fossemos capazes de o conseguir por nossa conta e risco. é quase uma missão impossível, diriam muitos, e eu incluída também. Uma das teorias que ouvi e que compreendo e aceito é que temos o trauma da ligação ao cordão umbical da mãe,onde estavamos em segurança e completamente dependentes de outro ser. O trauma do nascimento, de sermos colocados neste mundo sozinhos, deve ser uma sensação de abondono brutal (sim não me lembro), mas persegue-nos em toda a nossa vida, pois levamos o tempo todo em busca da nossa liberdade e independência.

Ora, no meio disto tudo, compreendo que não é só isto, apenas levamos a maior parte da nossa vida desconectados de nós próprios e a receber as influências do exterior que não percebemos o quão completos nós somos, enquanto indivíduo singular. O sentimento de solidão vem da falta de consciência de nós próprios e respectiva aceitação do todo que somos.Quando percebemos isso, percebemos que não estamos sós, nem nunca poderíamos estar, pois há uma interdependência, uma ligação com todos os que nos rodeiam, pessoas, natureza, ambientes, tudo. Portanto como poderíamos estar sós, quando temos um mundo tão habitado,tão repleto?

A solidão que se sente talvez possa advir do desligamento, da não percepção deste todo, porque efectivamente se somos todos uma grande família enquanto não a reconhecermos é normal que haja um sentimento de falta, de incompletude. E o que é belo é perceber que esta interdependência é antónima de dependência, eu prefiro até chamar de comunhão. É o reconhecer que somos partes de um todo, o que nos torna integrados e plenos.

É um estar só tão acompanhado que nos torna tão completos e saciados. É o paradoxo de não precisamos de ninguém para estar bem, sendo que precisamos todos uns dos outros para o Bem Comum.

Gratificante, sem dúvida :)

Comentários

  1. :)

    "O sentimento de solidão vem da falta de consciência de nós próprios e respectiva aceitação do todo que somos."

    disseste tudo.

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