Quem nunca errou que atire a primeira pedra



Viver é uma grande delícia quando nos entregamos a ela para saborear cada instante. Na minha primeira interpretação de saborear diria que se trata de receber coisas boas, docinhas, simpáticas. Mas não. Saborear implica apurar o paladar para diferentes sabores e aromas desde o doce, ao picante, ao amargo, ao salgado, ao citrinos, entre outros que agora de me momento me escorrem.

E já que falo em sabores e logo penso em comida, poderá ser um bom exemplo: quando digerimos um alimento ele é assimilado pelo nosso organismo e transformado para que possa fornecer-nos os nutrientes de que necessitamos e o excedente é expelido. Claro está que quando existe alguma obstrução no nosso organismo, o processo fisiológico começa a apitar por todos os lados, para indicar que há um problema com a máquina. E infelizmente o corpo não traz garantia de 2 anos como a maioria dos produtos, não dá para devolver, nem para trocar. É mais, agora aguenta e tenta procurar a causa do que está a funcionar menos bem.

Simples, aparentemente. Mas como já diziam os romanos "corpo são, mente sã", não é só de comida que o homem se alimenta. Quando falamos de emoções todos os cabelinhos do corpo se arrebitam.Paixão, ódio, inveja, ciúme, posse,impotência, angústia, solidão, medo... Vive-se intensamente as emoções como se não houvesse amanhã ou reprime-se a emoção à espera que o amanhã chegue. Nos entretantos de toda esta experienciação fica adormecida a causa da emoção. Projectamos para o momento/acção que despoletou a emoção, quando a mesma apenas foi o estímulo que precisávamos para fazer ressoar as campainhas dentro de nós. Nem sempre é fácil o estado de atenção que nos permita percepcionar as causas, principalmente quando as emoções até são boas e deliciosas,preferimos o fazer de conta, prolongar a ilusão.

É legítimo, todos nós temos os nossos despertadores accionados para tempos diferentes, aliás acho que deixámos uma série de despertadores espalhados em diferentes momentos para que fossem dando sinal, para irmos acordando. Se ainda assim o sono for muito profundo, há um dia que os despertadores resolvem tocar todos ao mesmo tempo e aí lá teremos que acordar de sobressalto.E residerá aí a nossa escolha ouvir o despertador ou deixar para o próximo. E isto não é mal nem é bem, é apenas uma opção, como poderemos nem sequer ouvir o despertador.

Agora se recebemos estímulos de fora que aparentemente não nos dizem respeito, se nos incomodam, é porque houve uma campainha que ressoou. Quantos de nós conseguem ficar indiferentes ao sofrimento do próximo (seja ele um estranho,seja um amigo). O que é que isso ressoa em nós? A impotência de não poder fazer nada, porque não posso viver a vida do outro, não posso tomar decisões por ele, assim como estaria a faltar-lhe ao respeito ao impor a minha forma pessoal de lidar com o sofrimento. Estaria sempre a julgá-lo e a passar-lhe um atestado de incapacitado. Apenas temos de perceber que o nosso papel só pode ser interventivo quando nos é solicitada ajuda. E muitas vezes essa ajuda pode ser somente emprestar o nosso ouvido para escutar o interveniente ou a nossa simples presença.

Aceito que cada ser individual tem de passar pelas suas experiências e vivências e isso muitas vezes implica magooar terceiros, ser injusto, egoísta, matar, roubar, violentar, pois é a única maneira que conhece e que sabe lidar com as situações que lhe aparecem. Claro está que não posso compactuar nem ser condescendente com aquilo que não é a minha verdade, mas acredito que as pessoas que cometem actos cruéis e injustos estão cegos e perdidos e não têm consciência dos seus gestos.

Se os homens são todos iguais na sua essência, são todos puros e inocentes, só que esqueceram-se disso e foram criando fortalezas ao seu redor tão altas que não conseguem olhar para eles próprios.

Agora não me cabe a mim,nem a ninguém julgar os comportamentos e acções de ninguém. Quem nunca errou que atire a primeira pedra. O erro é necessário para aprendermos as melhores lições da nossa vida. Somos responsáveis pela nossa vida, logo todas as nossas acções têm consequências,tudo o que fazemos retorna a nós em proporções semelhantes,e se às vezes isto pode ser pesado, não é necessário estarmos a pôr mais quilos em cima, e se calhar é aqui que temos de prestar o nosso auxílio :)

Acredito na vontade do Amor, na compreensão do próximo. A aprender a aceitar as coisas como são :-)

Comentários

  1. :)

    "Vive-se intensamente as emoções como se não houvesse amanhã ou reprime-se a emoção à espera que o amanhã chegue."

    tal e quel!

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