De olhos fechados.... coração aberto




Fecho os olhos. Xiu... Silêncio. Deixem-me concentrar.Quero deixar-me embalar pelo movimento das ondas.Quero. Quero...

De olhos fechados me embalo e tudo ganha uma percepção bem mais clara. Os sons aproximam-se e tornam-se límpidos. As cores, os burburinhos, as pessoas,as texturas... fico extasiada como se estivesse a ver um filme.E no entanto esse filme é também o meu. Mexe cá dentro,sentir que o corpo cá dentro está a assistir na plateia e as células ora aplaudem e se regozijam, ora gritam, pulam e se zangam. Elas vibram com 1 boa história. Estou a imaginá-las sentadinhas a comerem pipocas em reboliço, sedentas por histórias e mais histórias.

E eu aqui na corda da bamba rindo que nem tola, pelos dramas que alimento, pelas tristezas que carrego, pela impotência de não poder mudar o mundo daqueles que mais gosto e que gostaria de ver bem...quando no fundo sou eu que me identifico com essa inércia de alguma forma. E o engraçado é que consigo imaginar bem o papel das células do meu corpo,faço eu pois o mesmo com as histórias daqueles que me rodeiam. Assisto impávida e serena, dando o apoio e conforto possíveis, sem poder interferir, mas contudo há sempre uma parte que me pertence, que ressoa cá dentro.

E assim de olhos fechados, sinto a vida cá dentro em reboliço. Todo o meu corpo transpira, sentindo essa vida sair por todos os meus poros. A parte que quer os olhos abertos, diz "atenção", tu tens de controlar, tu tens de perceber, tens de atribuir um significado. Atenção! observa, não vivas.

Foi sem querer que fechei os olhos e me permiti simplesmente estar.sem mas, nem porquês...

Palavras ditas e não ditas, gestos, sentimentos não revelados, olhares que fogem, o esconderijo atrás da fortaleza para proteger qualquer coisa preciosa. o medo de ser autêntico, a falta de coragem para ser espontâneo e livre, o receio de não agradar, o constrangimento de ser julgada, sentimentos de culpa, a fuga e mais fuga de conversas que tentam ser adivinhadas e que podem mexer o que não se quer mexido... MEDO, MEDO,MEDO....

E eu como espectadora e protagonista no elenco, simplesmente fui deixando a peça correr, representando o meu papel, sem saber bem qual era e fui percebendo a panóplia de emoções que foram escorrendo.... de vez em quando vinham uns abanões e eu apenas me mantinha firme, na minha autenticidade, sem perceber bem o que se passava... E claro está... como é bom assistir confortavelmente como se aquilo não mexesse connosco. Mas parte de tudo o que me rodeia é meu. Tudo me pertence e identifico o que já fui em tempos, pelo que compreendo, embora o primeiro impacto seja o de surpresa, por não esperar, talvez parte de mim não queira aceitar que já fui assim e que outra parte ainda é.

A dificuldade em assumir as imperfeições, como desculpas para não me aceitar e não aceitar o outro. Forma gira de sabotagem, exigir do outro aquilo que não sou capaz de me dar a mim própria, frase gira esta, que apanhei assim do ar através da minha Ritinha.

Pois estamos todos na mesma estrada, talvez a percorrer trilhos diferentes. E sim quando fecho os olhos e escuto o que me rodeia compreendo, aceito, identifico a dor, o sorriso, a alegria que me ilumina e que está aqui bem presente. apenas finjo que não quero ver.Talvez para todos os dias poder olhar para mim e ficar surpresa com os novos traços que vejo e revejo.

Fecha os olhos. Silencia. Escuta coração com coração e apazigua a maré do impulso e do desejo de dominar.

Os animais selvagens querem-se livres e soltos. E a fera não sobrevive. VIVE,AMA, CAI, LAMBE AS SUAS FERIDAS E AVENTURA-SE NOVAMENTE À VIDA, AMANDO-A A CADA SEGUNDO.

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