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A vida apresenta-se como um presente a todo o momento. Como um embrulho que esconde lá dentro qualquer coisa preciosa, apenas o descobrimos quando chega o momento de abrir.Há presentes que nos sabem bem receber, outros nem tanto, trazem um gostinho amargo que se torna dificil de digerir.E nós sacanas queremos controlar os presentes que estão à disposição, queremos escolher, queremos traçar objectivos, na ânsia de um resultado.

Numa conversa há tempos atrás dizia eu, que me gosto imenso de teorizar, cuspir as minhas teorias, que mais importante que dar é aprender a receber. Aparentemente não faz muito sentido, pois se queres receber tens de dar. Muito lógico, mas a partir do momento é que o dar implica a consequência de um receber como troca perde todo o seu significado, deixa de ser gratuito.Por outro lado quando se fala em receber pensa-se logo em receber coisas boas. Adoramos atribuir significância às palavras. Mas o receber é muito abrangente: receber uma crítica por exemplo, nem sempre é fácil, até mesmo um elogio recebido pode não ser fácil. Colocamos tantos constrangimentos, temos tanta dificuldade em receber, provavelmente isto irá-se reflectir na forma como nos damos. Digo eu que gosto muito de mandar bitaques.

Exigimos tanto que nos esquecemos de viver, de viver plenamente. O viver sem rede, sem querer controlar as situações, de nos deixarmos envolver pela surpresa, pelo tal presente que a vida nos mostra e que se vai abrindo aos poucos, à medida que os mistérios encontram o seu tempo para se revelar. As sementes quando são lançadas à terra têm o seu tempo de crescimento, não têm hora marcada para brotarem da terra e florescerem, será quando menos se espera, num dia de sol ou de chuva. Quando chegar o seu tempo.

E é curioso, quando por momentos conseguimos soltar as nossas amarras, a vida surpreende-nos, talvez aí percebamos que afinal tinhamos as amarras soltas, que nos deixámos levar. O inesperado acontece. E a vida saúda-nos com as responsabilidades e com os bombons. E o caminho seja ele qual for torna-se leve e percebe-se que apenas o que importa é caminhar e estar presente em cada passo, sentir o pé que caminha pelo chão, sentir a textura da terra, o cheiro e saborear.

O precipício surgiu-me no caminho, sinto-me em queda livre,muito leve, no mistério que é o amanhã. A sensação que percorre é o sangue a correr nas veias, o bater do coração, o respirar. Isso basta. O embate de não poder alterar, de não querer alterar, de não ter corda para me segurar é também assustador, pelo desconhecido, por não vislumbrar soluções, por não me preocupar, quando na verdade deveria, pela lógica, estar a traçar um plano. E a única coisa que me sai é que há uma solução para tudo e quando chegar o momento ela aparecerá. Nos entretantos respira.

Nós levamos uma vida inteira a seguir um determinado tipo de princípios, por todas as crenças que fomos gravando dentro de nós. Depois a determinada altura há uma explosão e apercebemo-nos que esses princípios foram-nos criando bloqueios, ressentimentos, medos e levamos outra metade da vida a batalhar para desbloquear esses bloqueios, perdoando-nos, libertando. Mas depois agarramos essa consciência para nos desculpabilizarmos por aquilo que achamos que ainda nos limita, outras vezes enchemos o peito de confiança e dizemos à boca cheia, "ah isso já está curado, fiz o meu trabalho de consciencialização e de limpeza espiritual, está tratado", como se se tratasse de uma corrida para chegar a algum lado. E no meio destes processos de descoberta e de reencontro connosco que poderia ser mais harmonioso e sereno torna-se por vezes desgastante e conflituoso, perceber que não saímos do mesmo sítio ou que afinal aquele bloqueio que estava tratado ainda está ali.

E somos uns sacanas porque constantemente colocamos rótulos a nós próprios, vitimizamo-nos, pedimos colo e esquecemo-nos de assumir a responsabilidade por nós próprios e ver a magia que está em tudo o que nos rodeia. Crescer custa, dói, mas essa dor um dia cessa e dá lugar a outra emoção nova. Depois da tempestade vem sempre a bonança. Eu acredito que sim. E o mesmo vem com o sentimento de alegria, não nos podemos agarrar às emoções, porque elas são flutuantes, elas vêm quando menos esperamos e também partem quando chega o seu tempo. O sentimento permanece e tudo o que é mais profundo, mas aí é tudo bem mais sereno e pacifico. É tudo o que é, sem mas nem porquês. Simplesmente é tudo o que é.

No sentir profundo de uma sinceridade que brota cá de dentro, chegou sem hora marcada, primeiro estranha-se a casa nova, mas com a gratidão de tudo o que foi e tudo o que é, vai-se acomodando dentro de mim. Sê bem-vinda :-D

Comentários

  1. ...mas isto tudo foi por causa do colar de perolas que te dei?? ...e tu não gostaste!! ...oh pá pode ser que pró ano gostes mais loool ...não sei que entendeste ... pró ano quero ta lá...pra dar...e receber!! :o)

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  2. convidado oficialmente... olha ó privilégio. e 1º estranha-se depois entranha-se. temos faltado aos treinos pá temos que continuar a desenvolver mais profundamente esta troca gira do dar e receber.

    ainda não tenho o teu telemóvel... tá mal

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