Tudo e nada



Levamos uma vida inteira a traçar objectivos... a correr atrás de sonhos... a querer, a ansiar por qualquer coisa mais. Nunca estamos satisfeitos com o que temos. Temos sede. Sede de aventura, sede de vida. Procuramos aquele amor, a alma gémea que nos irá saciar e completar a nossa felicidade suprema. Queremos aquele carro novo, a casa, a auto-suficiência garantida que nos permita desafogadamente viver sem preocupações de maior (isto é, sem ter de andar a contar os tostões). Queremos aquela viagem de sonho. Muitos querem também ser pais e mamãs. Cada um à sua maneira quer marcar a sua mijinha.

Tudo muito giro.Eternos insatisfeitos à procura do pote de mel no final do arco íris. Com tanta ânsia por resultados,nesta luta árdua diária, acabamos por não nos vermos, por nos pormos em causa, seja por ainda não conseguirmos atingir os objectivos a que nos propusemos, seja porque a procura é tão incessante que nos esquecemos de nos divertir pelo caminho que percorremos. Vive-se então numa angústia e frustração permanente. Questões que ainda não tiveram resposta, comparações com o vizinho do lado que vemos de fora e que achamos estar melhor que nós.

Enfim... poderia enumerar uma série de exemplos que atormentam cada um à sua maneira em menor ou maior grau. Temos uma forte tendência de olhar para fora de nós, para julgar, avaliar e não olhamos para nós, para o nosso potencial.

Temos dificuldade em nos aceitarmos no nosso pacote completo e por isso não acreditamos verdadeiramente em nós. Como poderemos então olhar para fora e ver a beleza que se mostra aos nossos olhos?

Pomos também demasiado esforço e expectativa em tudo o que nos propomos não deixando o espaço para relaxarmos, para aceitar as contrariedades que surgem nos entretantos. Aliás quando isso acontece parece que o mundo vai desabar.Quer-se uma explicação,sim tem de haver uma explicação. Tem de haver um culpado. Por vezes lá conseguimos perceber que o único culpado somos nós, contudo, nem isso serve de consolo, pois martirizamo-nos, castigamo-nos e ainda nos sentimos pior. É quase o certificado de imperfeição que damos a nós próprios, que atesta e comprova realmente a nossa incapacidade de estarmos bem por nós,pelo que somos, sem apetrechos.

Procuramos tantos escapes para provarmos constantemente a nós próprios as nossas incapacidades que encontramos realmente as situações de vida que nos confirmam isso. Tenho necessidade de amor, logo vou pelo mundo fora à procura do amor para saciar a minha fome, porque estou faminto. Claro está que nessa correria vou-me esbarrar com situações de carência também. Se eu sou tão mau que não me consigo me amar, pode ser que lá fora consiga enganar alguém que me consiga amar, exactamente como sou. Porque eu tenho medo de olhar para mim e de me ver. Pode ser que os outros me consigam ver, ou melhor, fico apenas o tempo suficiente para me saciar e depois parto, para que não tenham de me ver, assim não tenho de me mostrar.

Tantas e tantas ratoeiras e truques pregamos a nós próprios para não termos de olhar para nós, para não nos AMARMOS POR COMPLETO. Temos medo de nos desiludirmos connosco, porque estamos constantemente a exigir a perfeição, quando a perfeição é o somatório de todas as partes.

Quando nos amamos e nos aceitamos no pacote inteiro aceitamos melhor o outro, pois deixamos de exigir... Simplesmente respeitamos quem somos, acreditamos e entregamo-nos à aventura de viver, sem grandes planificações, simplesmente pela vontade de ser. Sendo essa vontade de ser composta por todas as partes que compõem o nosso todo.


É dificil, claro. Mas a vida também nos vai colocando os cenários que precisamos para irmos nos re-membrando (palavra gira esta que li algures e fica aqui mesmo bem)e percebermos que somos AMOR, que somos todos um. Pois claro está sem a experimentação não teríamos a capacidade de sentir e evoluir.

Neste momento sinto-me uma folha em branco a transbordar de tudo e de nada.

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