Life and stuff



"(...)Apesar disso, ela ama o mundo por ser rude e indestrutível e sabe que outras pessoas o devem amar também, tanto pobres como ricas, embora ninguém mencione especificamente as razões. Por que outro motivo lutamos para continuar a viver, por muito acomodados ou feridos que nos encontremos? (...)mesmo assim queremos desesperadamente viver.",in As Horas, de Cunningham Michael


Meus queridos companheiros de viagem,


Serve o presente para expressar a minha gratidão, por todos aqueles que se cruzaram e ainda se cruzam no meu caminho. Por todos os bocadinhos que me deram e me dão constantemente, de todas as formas. E acima de tudo partilhar um pouco de mim.

Histórias e mais histórias são apenas fragmentos que vão revelando o elenco e me permitem experienciar tudo aquilo que necessito para o meu crescimento. E isso é tão grande, e é tão bom. Permite-me que vá chegando aos poucos à descoberta de quem sou, com maior ou menor aceitação, importa que vou recolhendo e bebendo cada gota de todas as influências que vou recebendo.

Acima de tudo estou a redescobrir a Alegria que há em mim. A alegria de VIVER. Não que isso impeça que os dissabores desapareçam, mas que os possa reconhecer e integrar como partes do todo que sou. Reconhecimento acima de tudo, de mim e do todo que me envolve que é tão perfeito, tão pleno.

Quando passamos por crises que abalam profundamente a nossa fé, o acreditar retraímo-nos e apenas vemos obstáculos que nos parecem intransponíveis. Alimentamos desesperadamente o monstro que há em nós e não conseguimos vislumbrar mais nada à nossa frente.

Vivemos permanentemente a dicotomia entre o AMOR e o MEDO, ou o AMOR e o ÓDIO. Penso que a parte mais difícil é o PERDÃO. O sermos benevolentes connosco. Estamos constantemente a recriminarmo-nos, a avaliar-nos, a criticar-nos. Somos o maior juiz de nós próprios. Pomos constantemente as nossas capacidades em causa e surpreendemo-nos quando somos elogiados (não é bem surpresa, nós no fundo até sabemos, mas não acreditamos, e sujeitamos-nos às opiniões que o exterior nos quer dar).

Acreditar que todas as experiências são necessárias para reestabelecer as nossas estruturas, para verificarmos que somos capazes e inteiros. Daí que nos coloquemos permanentemente à prova.Seja para fortalecer as nossas inseguranças, seja para fortalecer a nossa auto-estima. Faz parte.

Somos humanos na caminhada do AMOR, a aprender a AMAR de todas as formas para que possamos aos poucos ir partilhando as nossas aprendizagens e sermos cada vez mais, na reunião do bem-comum, no regresso a casa.

Estamos lado a lado de mãos dadas seja na presença seja na ausência, pois a forma, essa, é apenas mais uma capa necessária sim, mas uma capa.


Podia dizer que a minha caminhada está prestes a começar, mas não seria justa para comigo, se assim o dissesse. A minha caminhada começou no dia do meu nascimento. E todos os percalços, todas as vitórias, todas as derrotas, todas as perdas, todos os ganhos, todas as mágoas, todos os amores trouxeram-me até aqui. Seja lá o que o aqui quer dizer.

Em constante evolução, com maior consciência nalguns pontos e menor noutros, fazem-me crer que a vida é um mistério que se revela a cada instante. E é esse sabor de surpresa que nos motiva e que nos empurra para continuar a cada dia que passa, com menor ou maior fôlego, mas faz o motor trabalhar, com aquela energia que ora pode fazer andar uma moto ora um avião.

Não importa para onde vais, que caminho segues.... Importa acima de tudo aquela vontade que sai cá de dentro e te move, que te dá aquele impulso de vida, que te enche e preenche e te faz sentir um poço inesgotável de energia criativa. Aquela que parece que o cansaço físico não vence. Porque celebras a cada momento com Alegria por estares vivo. Saboreias os momentos, porque estás presente, atento e perceptivo. Mesmo nos momentos em que a tristeza e a revolta podem espreitar, sentes que também passará, observas como se movimenta dentro de ti esse fluxo,e respeitas.

O desafio está sempre presente e não tens só flores, porque os espinhos também fazem parte para o teu crescimento. A opção desses espinhos serem mais dolorosos ou não depende sempre da tua perspectiva, da forma como os alimentas e paralisas perante eles. Porque no fundo são oportunidades que te estão a ser dadas para ires um pouco mais fundo dentro de ti. Não há troféus no fim, mas a alegria de viveres uma vida cheia de AMOR, por ti e pelo próximo.

A capacidade de te mimares a ti próprio, de Amares exactamente como és neste momento, sem mais nem menos. É um percurso a percorrer e tenciono percorrê-lo. Eu vou agarrar as oportunidades que a vida me está a oferecer e tentar retirar delas o maior sumo que puder, ao encontro da minha verdade, do que me faz sentir bem e feliz a cada momento.


Todos aqueles que de alguma forma cruzaram e cruzam a minha vida foram-me mostrando o caminho, foram-me permitindo ver-me. Nem sempre foi fácil, confesso. E é tão bom perceber o que fica para além das palavras, das histórias, que o tempo aos poucos vai apagando da memória. Apenas fica a essência. E perceber que somos muito mais.

Falta-me as palavras que designam melhor o que tento de alguma forma passar, falta-me esse conhecimento, ou não será necessário. Tenta-se sempre uma explicação que defina qualquer coisa e nos ajude a classificar o que está cá dentro e que identifique a forma de sentir. Mas importa saber que para além das palavras que enchem esta mensagem que diz tudo e diz nada, fica um sentimento maior que tocará a cada um exactamente onde tiver de tocar, se tiver de tocar. A mim apenas me surgiu a vontade de partilhar com o sentimento de oferecer uma parte de mim que está para aqui a tagalerar. E é com esse respeito que o faço.

Hoje percebo que mais do que palavras e conversas, foi o silêncio entre as palavras, os sentidos, os gestos, tudo aquilo que não é visível aos olhos que ficou gravado em mim.


"In a Manner of speaking
I just want to say
That I could never forget the way
You told me everything
By saying nothing"

(estrofe da letra In Manner of Speaking de Tuxedomoon)


OBRIGADA.

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