Morte



A morte saiu à rua cantando. Caminhando pé ante pé. Respira docemente. Sente-se o calor que emana do corpo. Abafado. Movimenta-se lentamente. Os seus passos vão desbravando o caminho ainda não percorrido. Fez-se luz. Luz! A luz que vai iluminando o caminho, aquele sem chão, sem destino.

O bater do coração. O calor do corpo. Os fluídos que lhe percorrem a pele vão-se desvanecendo... A forma fica tépida. As cores vão desbotando, como um anoitecer que se derrama cobrindo-lhe todo o espectro.Um fim se aproxima... Nada será igual. A transformação está latente. O bater que marcava um compasso, um ritmo, o ritmo, coloca em descanso a melodia.É o momento do silêncio. É o momento da afinação do instrumento para que renove o seu reportório. Chegou a hora do renascimento. Uma nova vida está pronta para se iniciar. O ciclo continua. A orquestra recebe novos músicos para o seu elenco.

Uma morte. Uma vida. Uma morte. Uma vida. A canção poderá ser a mesma, mas certamente tocada de forma diferente...Os sentidos sucedem-se para dar dar lugar aos novos sentidos.

Está escuro! Acende a luz.

Ontem morreu uma idosa! Hoje nasceu uma criança.
Ontem caíram as folhas das árvores. Hoje encontro-as despidas. Amanhã certamente terão novas folhas e flores.

E nesta passagem vou contemplando os cenários que a Natureza vai mostrando. Um mosaico colorido,onde cabe sempre mais uma peça.

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