Renascer

Tenho alergia ao Natal
É tão grande que fico totalmente contagiada. E é de contra vontade. Não dá como fugir. Gosto dos gestos, da bondade que se espalha, das boas mensagens que se desejam uns aos outros. Perceber que somos generosos e que temos sempre o coração cheio. Serve para recordar.

Mas mais uma vez os gestos não chegam, têm de ser alimentados com prendas e mais prendas e tudo a jeito para que os enfeites estejam a postos. É tudo tão bem preparado, tão esperado. Reina a surpresa, só quando aquela prenda que no fundo esperávamos não vem. É a loucura. Porque é visto com maus olhos, falhou, deceção. Contabilizam-se os gastos após a cerimónia e deseja-se que o próximo ano leve muito a chegar para recuperar o arrombo à carteira.

Gosto de receber prendas quando menos espero. gosto de abraços e beijinhos. de uma palavra de mimo. de ter perto de mim as pessoas que amo. todos os dias. dos convites inesperados para jantar, dos cafés de improviso, dos passeios à beira mar. Gosto de gostar e de ser gostada!

E não há natal que me valha! Relembra-me que estou viva e que tenho o "motivo" plausível sem parecer muito louca de dizer aos que me estão próximos que amo, que lhes desejo bem. De resto, vejo como um dia igual a tantos outros, às vezes com um pouco mais de vontade que passe rápido ou demore um pouco mais a passar. como o resto dos dias portanto.

Já a transição de ano tem outro significado. É o fechar de um ciclo. Um arrumar de casa, para começar de novo. Fazer o balanço e o planeamento para o ano seguinte. E é tão rápido e fugaz essa transição. O tempo voa e os sonhos esses parecem que aumentam cada vez mais. há tanta vida dentro da vida, que parece que uma vida não chega. e chegar ao fim de cada ano com a revisão de tanto que se fez e tanto que ainda há para reescrever, deixa um misto de satisfação e entusiasmo para continuar.

Ainda que hajam dias em que parece complicado sair da cama, outros há em que agradeço por ver o sol, nem que seja tímido e sentir o vento na cara e perceber que tudo é tão imenso.


A preparar-me para mais uma morte para renascer de novo. :)