Acende a luz


Sol que me iluminas. que me aqueces e me deixas cair em teus braços. Não há nada para desejar. Apenas deixar-me estar nos teus braços. Movimento que gira, que me envolve, que me faz cambalear e girar contigo, como se eu e o movimento fôssemos um só.

O primeiro remoinho deixa-me tonta, o querer segurar-me em todos os lados. Vou cair. Vou cair. E quase... quase me sinto cair. Perco as forças e aí há qualquer coisa que segura. Deixa de ser assustador para me ambientar a este circulo giratório. E o movimento giratório torna-se parte de mim. Sou eu. E encontro. Encontro-te! A serenidade, o silêncio e no entanto, tudo continua a movimentar-se. O circo, os palhaços, as trombetas, os carros, os burburinhos, as pessoas, as vidas, as máscaras, os lenços, os cantos, o choro de um bébé, uma mãe que parte desta vida.

As folhas caem, as árvores despem-se. O país anuncía medidas para a crise, o dinheiro falta, uma doença que traz angústia a uma família, uma morte anunciada, o pão que falta na mesa, os medos por não conseguir chegar ao fim corrida e passar a meta. A vontade de ir e a falta de coragem para atravessar a estrada. O sono que não vem. O cão que ladra com dores não exprimidas. A dependência do estupefaciente para conseguir levantar e dar os passos para fora da cama e ver a luz do dia.

O cheiro a café que inunda o espaço, o som das moedas a caírem no balcão. A música que sai do rádio. Os risos, os choros, os prantos e os encantos nesta roda viva que não pára de girar. Ora está frio. Ora está calor. E quanto mais o círculo gira mais caminhas para o centro. Aquele a que tudo assiste, mas que ainda assim participa desta loucura como uma espiral que vai-se renovando e renovando, apagando memórias do tempo e trazendo outras para se instalarem.

Hoje apago a luz. Amanhã acendo a luz. Ora sim, ora não.
A sombra que passa sou eu. É mais fácil ver o reflexo. Está à minha frente. Observo. Mas a dinâmica vem de dentro. O condutor que orienta e direciona.

Acende a luz!

Comentários