O menino de gorro azul

Era uma vez um menino que andava sempre com a cabeça a viajar. Ele adorava o seu gorro azul. Sempre que o colocava sentia-se protegido nas suas viagens que pairavam apenas na sua cabeça.

Até que um belo dia pega no seu gorro e leva-o uma verdadeira viagem até à Sérvia. A preparação circundou-o de entusiasmo. Faltam 3 semanas, faltam 2 semanas, falta 1 semana, até, faltam apenas 2 dias. Tudo se apressava para que nada faltasse para a viagem de sonho. O tempo por vezes troçava dele e fazia-se lento, quase não passava. Outras vezes acelerava como as borbulhas que lhe davam voltas ao estômago numa mistura de entusiasmo e de ansiedade por ir ao encontro do desconhecido.

Ia sozinho, na companhia do seu gorro, que guardava sonhos e sorrisos prontos a serem espalhados e partilhados.

Chegava à Sérvia. Um ar gelado esperava-o, ainda que levasse um coração quente que o aqueceu durante a toda a estadia. O corpo tremia. Não conseguia identificar se de frio ou de nervos miudinhos. Finalmente chegara o tempo de conhecer a nova família que o ia acompanhar por pouco mais de 2 semanas. Nacionalidades e culturas diferentes deixaram-no extasiado.

Criança de barba grande! Saltava, brindava, ria, como se tivesse chegado a casa. Aquele era o seu mundo e sentia-se compreendido e acarinhado.

A neve soava-lhe a macio, queria brincar com ela sempre. Bebia todas as palavras e todas as experiências com especial atenção, como se estivesse a aprender cada palavra como se fosse a primeira vez. Apesar de nada ser novo... tudo ganhava nova forma, novas perspetivas.

As ideias ganhavam forma e sentia-se a expandir. Largava o gorro e a barba, para permitir o renascer da nova criança, do novo rapaz. Apaixonava-se novamente por tudo o que tocava. Pelas flores, pelas pessoas e por aqueles olhos rejubilantes que o acompanharam durante toda a viagem e que lhe lembraram que era homem e que tinha vida a brotar dentro de si.

Os dias passaram a correr e o fim da viagem aproximava-se a passos largos. Recolhia para si retratos. Os gestos, os olhares, as expressões, os momentos, na sua caixinha mágica. A caixinha intemporal que fotografava cada pormenor e o tornava um quadro único e irrepetível.

Regressava a casa com a memória cheia, e o coração invadido. Quase explodia de tanta magia. E eis que a casa lhe recebeu com saudade e mimo e ele a acolhe com o coração cheio. Ideias, experiências e vontade de ser e fazer.

O gorro azul deixou de proteger as suas viagens e passou a ser o "chapéu mágico", onde ia buscar os sonhos guardados para os realizar. E passou a desenhá-los, a fazer, a experimentar a brincar.Só porque sim, sem a ânsia pelo resultado, mas para seu puro divertimento.

Encontrava a sua criança e a fotografia. A fotografia que iluminava a sua alma e o seu coração. Os rostos humanos, as paisagens. O gorro azul transformou-se num gorro mágico que fotografava os sonhos e os tornava reais.

A viagem tornara-se real

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