Casa


Casa. O sentir a relação comigo, como um casamento eterno que não admite divórcio. Uma aliança que une o mais íntimo que mora cá dentro e o que se reflete cá fora. Nem sempre uma aliança fácil... corrompida por tantos fatores intrínsecos e extrínsecos. E na relação com as palavras que transferem os impulsos para a linguagem comum, ora complica e torna controverso o sentir que se quer claro, ora apenas rodopia entre o amaranhado de voltas.

E a casa que casa com a relação que mora cá dentro é simples e direta se estiver acordada e desperta para o sentir e para a minha verdade mais profunda. Eu só quero o meu bem e como consequência desse meu querer profundamente egoístico, como condição inalianável de ser, quero o bem de quem me rodeia.

O espelho dos outros mostra-me o quanto temos tendência para nos maltratar, para fugir de nós como se habitasse um monstro dentro de nós. E o espelho dos outros mostra-me também o meu, como partes que me compõem, no todo que sou e que somos. Nada está fora de mim... e os apontamentos extremos dos outros mostram-me as partes que também não encaro.

Reforçam as faltas, a ausência de tolerância e aceitação com o que somos, no momento presente. Sentimentos de culpa, ressentimento, a sobreresponsabilidade com os outros, que em última instância são sentimentos que carregamos em relação a nós e não ao outro. O outro apenas serve de veículo para fazermos a nossa própria auto-análise e higiene mental, emocional, física e espiritual. E integrarmos aquilo que até então não tínhamos consciência.

A relação connosco próprios é a mais importante de todas para que possamos ser inteiros nas relações que estabelecemos com os outros. Todos os sentires são legítimos, estão aqui para serem sentidos, aceites e integrados. Não há bom, nem mau, apenas perspetivas. Eu sou a juíza de mim própria e aquilo que dito de mim impulsiona a relação de casa e de casamento que tenho comigo.

Emociono-me, pulo, danço, rio-me, choro, grito, zango-me, esperneio, teimo. Às vezes encho-me de coragem outras quero sacudir o capote e fazer de conta que não existe, simplesmente não quero. Aborrece-me, sou invadida por uma onda de perguiça. E isto sou eu também.  Reúno uma boa salada russa, bem doseada que me faz ser a pessoa única que sou com vontade de estar sempre em casa comigo, com as minhas duas partes, o homem e a mulher que nesta relação de dualidade me completam e dão origem a esta combinação explosiva. EU!

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