Chamei por ti... e não vieste...

Era tarde, o relógio marcava as horas a um ritmo desenfreado, o sono não chegava e eu perguntava por ti.Quando é que chegas? Era criança,6 anos de muita vida, tanta, que parecia o sono não lhe fazer sentido, já que não compreendia o cansaço e que tinha de dar tréguas ao corpinho. Talvez achasse que se adormecesse poderia perder a sua chegada. Foram-se passando os anos e ânsia pela espera fora acalmando, ainda que continuasse a esperar. Um dia sem se dar conta, deixou de esperar. Pânico! Tinha-se esquecido dele. Como era possível? Tinha-o deixado de amar? Onde o teria perdido? Questões que a abalaram e a deixaram triste, porque sentia que era impossível deixar de amá-lo e deixar de o esperar. Não soubera fazer diferente. E eis que um belo dia a resposta vem. Nunca o deixara de amar. Ele nunca se foi embora, apenas nunca chegou, pensara ela, porque sempre esteve presente. Sempre esteve, como condição de ser assim. Estava dentro e ela buscava fora. Ela sentia a sua presença, a sua companhia, mas queria mais. Queria ver, ouvi-lo, tocá-lo. Mas a ânsia por algo mais que a sua fantasia tinha criado, criava uma barreira intransponível. Faça-se a sua vontade e não a minha, tornou-os mais próximos. Passou a aceitá-lo como é e a compreender. Aceitou ser guiada por ele, por caminhos cada vez mais desconhecidos. O essencial nem sempre é visível aos olhos da mente. Sussurra por leves brisas ao coração, dando-lhe a mão e apaziguando a alma. Tantos apontamentos que a vida lhe foi dando. Achava que um dia escreveria um livro, mas percebeu que o mesmo não poderia conter todas as aprendizagens... Porque ainda não acabou. Quando parecia que estava pronta para compilar tudo, surgiam-lhe mais páginas em branco, prontas a serem preenchidas. Como se não houvesse espaço para o fim, nem para um inicio sequer. Sempre que achava ter encontrado as respostas, a vida baralhava com novas perguntas. Mas isso agora já não a preocupava. Tinha-o encontrado. E afinal ele nunca chegou, porque nunca havia partido!

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