Papel negro


O papel chama-a... Não sabe o que lhe dizer. Mas ele pede-lhe que fale com ele. Não dá como fugir.
O papel pede para ser manchado de tinta preta. Para que o negro se entregue e se emprenhe na memória do papel. Quer-se preenchido, lido, partilhado.

Borrões. E mais borrões. A caneta em movimento constante, ou os dedos, a fazer uma dança que se quer dançada. E a vida não lhe pede menos. Talvez ela queira fazer paragens. Talvez resistências a prendam. Talvez constrangimentos, ou quiçá os limites que a permitem definir melhor o seu caminho e se defender das curvas apertadas.

Pouco importa. Importa que se vá divertindo pelo caminho com um sorriso doce de criança desvairada que se surpreende em cada esquina. Que saboreia, que se entrega como não houvesse amanhã. Um vulcão que se atira ladeira abaixo, sem pedir com licenças.

E assim é ela, menina doce e mulher vulcão. E se antes o vulcão a incomodava, agora menos. E as lições dizem-lhe, aceita tudo o que é. Perdoa tudo o que foi, agradece ao que é e dá as boas vindas ao que virá.

E o papel precisa de ser queimado em fogo vivo. Para que das cinzas possa brotar uma nova menina vulcão. Diz-se que é o ego que a consome e que dita os comportamentos que surgem antes do pensamento, como se a impulsividade a guiasse. Mas como ela sabe. Ah, como ela sabe que a ação dita aquilo que dentro não controla, por estar sempre em ponto morto. Ocupada com outras coisas. E aquilo que não está, aparentemente não existe. Até que lhe aparece escancaradamente à frente dos olhos. E aí surge o tempo da paragem à força.

Porque respirar é preciso! E aí sim respira, como um bom descanso da guerreira que pede paz, após os desafios diários que procura, como se adrenalina precisasse para se manter ligada. Faz sentido, tanto como um respirar leve que lhe sopra na cara como uma brisa de vento que lhe sussura levemente ao ouvido: Tréguas.

Acima de tudo ela ama a vida. E a vida que mora em si e que a faz dar cada passo... rumo ao mundo!

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