O Mundo de Sofia



Era uma vez uma menina de olhos de amêndoa, sorriso de mel. Abriu os olhos e mexeu os pés e cá estava aterrada neste mundo. Cheio. Imenso. Cheiros, sons, cores e vida.

Ficou maravilhada com o que viu a tal ponto que sentiu que era demais para ela. Sentiu medo. Medo de não conseguir usufruir tudo o que lhe estava a ser disponibilizado. Deparou-se com contrariedades. Sentiu o choque. Queria voltar para casa a todo o custo. Sentia-se diferente. Não havia espaço para ela aqui. De onde veio tudo era bonito,sereno e amoroso.

Quando ganhou força nas pernas e se endireitou um pouco, pôs logo a pata na poça, ou melhor dizendo em água a ferver e com o pé direito logo (devia ser para dar sorte). Rejeitou este mundo desde muito cedo. Pois queda maior não podia ter. Mostraram-lhe a dor, a tristeza, o sofrimento, as discussões, os desentendimentos. Ela não percebia o porquê destes atritos, porquê que as pessoas não aproveitavam as maravilhas e as oportunidades que lhes eram dadas e destruíam tudo. Sem perceber foi-se entristecendo cada vez mais, fechando-se na sua bolha, chorando pelas tristezas dos outros e não percebendo como poderia ser feliz neste mundo cruel.

Não que fosse essa a visão de Sofia sobre este mundo, mas ela embebia tudo o que estava à sua volta. Transportava para ela, as dores do mundo, porque o queria compreender. Queria saber do que o mar é feito e o que está por baixo da areia da praia.Era-lhe complicado perceber como as pessoas carregam tantas mágoas, ressentimentos, como podem estar tristes.

Aos poucos e poucos foi também ela ficando melancólica, revoltada com o mundo, triste e desmotivada. Porque nos seus sonhos o mundo da sua imaginação era bem mais alegre, vivo e amoroso. Não queria acordar. Queria ser uma Bela Adormecida que vivia e corria nos seus sonhos, desfrutando da magia que acontecia lá, nesse mundo imaginário.

Entretanto, conforme foi crescendo foi-se apercebendo que afinal para lá da amargura que via aqui, no mundo real, também havia um brilho, ainda que intermitente. Foi encontrando a beleza em cada uma das pessoas com que se cruzava e, quando se apercebia, alegrava-se e aproximava-se delas, com a surpresa do reconhecimento.Mas depressa se apercebeu que as pessoas se recolhiam com esse entusiasmo.Que se escondiam, que não queriam mostrar essa sua beleza, queriam proteger o seu brilho, como se pudesse ser roubado.

E assim foi continuando a sua caminhada timidamente, mas ao menos com a certeza de que podia encontrar o mundo do seu imaginário aqui.

texto escrito em maio de 2010

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