Jejum

"Tenho os dedos enferrujados. O papel foge-me das mãos. Folheio páginas e páginas de livros que prendem. Estórias viciantes que se prolongam por horas e horas a fio, como se o tempo parasse para que pudesse entrar noutro tempo. E quando regresso já amanheceu e a vida real chama por mim."

Há algo que a empurra para o mundo do fantástico onde tudo é possível. E depois as buzinas, a azáfama do dia a dia lembram-lhe que não há diferenças. O que é o real? O que é a ilusão? Tudo se contém.

É um tudo cheio de nada e um nada cheio de tudo. Ela tem os dedos enferrujados. Uma apatia que a imobiliza por dentro, apesar de no mundo real toda ela tem vida, como se de um robot tratasse. Qual o mundo real?

Uma questão que a perseguia por viver em paralelo os dois mundos, ou afinal seria tudo o mesmo? Encontrava-se sempre com duas pessoas distintas que a cada dia a surpreendia com tudo e nada de novo.

Paradoxos. A fartura e o estar farta de, um ponto de encontro perfeito para uma relação séria. Jogava-lhe as mãos e fazia-lhe festas., talvez na esperança de desenferrujar os dedos. Treino. É tudo uma questão de treino. Levanta-se o copo para mais um brinde.

Estava à espera que ela viesse... E enquanto isso padecia em jejum, pois que precisava dela para contar uma nova história.

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