Abro mãos


Perdão, per-donare, for-give... Novas perceções acerca do perdão bateram-me à porta.
O perdão na minha conceção está relacionado com o abrir mão de um ressentimento, de uma mágoa, de uma dor que ficou marcada na minha memória por alguma razão. Usualmente é alguém que despoleta essa dor em nós, daí que atribuímos ao outro: "magoaram-me". E são tantos os botões que os outros vão tocando em nós, que vão enchendo a mochila de memórias, que muitas vezes achamos que já estão esquecidas e apagadas, mas por qualquer motivo chega uma nova pessoa que despoleta novamente essa emoção e voltamos a sentir essa dor.

Há uns anos atrás disseram-me, "Ninguém tem capacidade de magoar ninguém". Esta frase marcou-me, ainda que o alcance da mesma não fosse possível compreender na altura, pois que na realidade do dia a dia, as coisas tocam-nos, o outro efetivamente chega a nós e dá-nos embates duros, sem que nada tenhamos feito para despoletar tais farpas. Pelo que a frase que me ficou gravada era inaceitável e incompreensível para mim, ainda que tivesse ficado a ressoar cá dentro.

E hoje aceito-a e percebo que somos humanos a ajudarmo-nos mutuamente seja pelas experiências mais positivas e/ ou menos positivas se é que justo sequer classificá-las, pois tudo no fundo são experiências que encaixam em nós segundo a perceção que temos do mundo no momento.

E esta semana ajudam-me a olhar para a palavra na sua essência e raiz "para dar - doar-me". E se o perdão é algo para mim e que a mim me diz respeito, sendo que o outro é a ajuda que despoleta as emoções para que eu possa limpar e aprender é também permitir-me ser um canal, uma ponte em que tudo se atravessa através de mim para mim e para me dar às experiências, à vida, ao Amor.

A vida é para dar, para entregar na aceitação do movimento, da dualidade, da polaridade, da impermanência, da mudança. Energia em movimento materializada na forma.

Abro as mãos e estendo-as para a vida para que ela me receba em tudo o que permito dar a cada momento. E sim. Vou continuar a sentir. A ser tocada e a tocar. A sentir dor, a sentir alegria, a envolver-me com as emoções, identificar-me com elas e também a deixá-las partir quando chegar a sua hora.

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