Presença



Presença.
Ouço o vento lá fora. O corpo estremece. E um remoinho entra-me pelo corpo dentro. Estou só. E sinto. Sinto tudo cá dentro. Uma tempestade de areia num deserto inóspito. E continuo a caminhar em direção ao vento. Ele cospe-me na cara. Uma brisa fria e dura. E tudo rodopia a grande velocidade.

Assisto ao embalar do corpo que ganha vida própria. Vozes, imagens, palavras circulam juntamente com o vento. E quanto mais observo, mais distante o rodopio. Continua incessantemente a girar, mas eu já não sou o remoinho. Apenas assisto ao espetáculo. Ele é lindo. Tem tudo.

Sinto na pele que visto a dor, a ira, o medo, o choro amargo da perda. Do embate da folha que cai morta no chão. O grito do bébé que chora com fome. Das mães que viram os seus filhos partir sem regresso. O lamento silencioso de uma cruz carregada às costas num caminho de vida. As preces rogadas num ímpeto de fé pela salvação.

E o lenço solta-se da cabeça e esvoaça pelo céu... Agora o lenço dança pelo ar criando formas ondulantes. Segue o seu curso. Caminha livre, sem que alguém o possa agarrar. E é belo acompanhar a sua dança. Ora no alto ora mais abaixo, quase parecia se deixar cair nas areias do deserto, para depois voltar a subir. Até que por fim os olhos iam começando a perder de vista o lenço.

E eu já não sou o lenço, já não sou o pranto, já não sou a dança. E nunca deixei de ser.
O grão de areia sopra-me no rosto e mostra-me que também sou pele.

Não importa onde estás. Mas a presença que És em comunhão com tudo o que É!

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