Palco do improviso



Tenho uma mão cheia de sonhos, de ideias dispersas que se querem juntar, mas que teimam em andar por caminhos solitários. E elas vão andando por aí soltas, manifestando-se ao sabor da sua própria vontade. Os desafios são tantos que não dá para fazer a paragem e dizer olha vamo-nos juntar. Mas eis que ,quando por momentos há uma brecha de silêncio e o vento entra pela sala adentro todos os fios se enleiam e juntam num só. Sempre estiveram juntas, as ideias e os sonhos encadeados num só. Tudo se encontra para o mesmo caminho. Raízes, é isso, precisam de ganhar sustentabilidade,  para se firmarem as ideias e os sonhos como partes de um todo que se vai mostrando e revelando à medida que a sua autora vai estando preparada.

A ânsia por conhecer a peça e entrar em palco bloqueiam a aceitação da parte como parte. Ela quer ver o todo, quer saber o que vai acontecer, como se vai desenrolar a peça. Ela apenas conhece as partes e quer perceber como encaixam umas nas outras.

Às vezes sente-se num deserto outras numa praia cheia de gente e o farol que a guia parece muitas vezes encontrar-se em noites de nevoeiro com uma luz muito tremida ora vê ora não vê. É por aqui ou por ali?

E às cegas vai caminhando passo a passo, sempre confiando que o farol está ali a apontar o caminho. Apetece-lhe parar. São muitos quilómetros percorridos. E o curioso é que enquanto caminha não se apercebe do cansaço, da fome. Custam os primeiros quilómetros. Quantos faltam ainda? A certa altura, pouco importa. Só quer caminhar. Afasta-se da multidão e caminha só. É o caminho dela, que tem de fazer pelo próprio pé. Mas ainda assim pára, esperando pelos outros para que a guiem. apercebe-se que precisa dos outros, fazem parte da caminhada. Desistir?!Também faz parte. Desiste ou não desiste? Como é que está? Sente-se bem, tem força para continuar, está bem. E prossegue no seu caminho e assim que ultrapassa a questão de parar ganha nova força e continua com garra, aquela que não se sabe de onde vem, mas que está lá. Corre animada, quase que para confirmar está bem, sente-se bem.

E quando se apercebe que o nevoeiro passa e que vê o farol claramente e que está a chegar à meta parece que ainda tinha força para fazer mais, para continuar. Ter de parar para descansar dói. O corpo cede e custa mais em dar novo balanço.

Mas parar também é preciso como também é preciso saber voltar a caminhar.Para onde? Não sabe... Deixar que a vida vá tecendo a peça à medida que a vamos vivendo, sem direito a ensaios. O palco do improviso e das experiências vai ditando a história e as estórias que se vão juntando ao fio que vai desenleando e unindo-se no todo que é.

O sonho, o conjunto de ideias ou sonhos que se vão revelando à medida dos passos que damos nada mais é do que o despertar do caminho que nos propomos a viver aqui e agora.

Comentários