Tenho medo de perder-te




Quando te encontrei houve um misto de emoções em mim. Dificéis de gerir, de encarar e integrar. Quando aceitei receber-te novas emoções vieram ao de cima. Uma América de emoções como pipocas a saltarem na panela, sempre a crescerem mais e mais. Uma abundância. Mas agora que te tinha encontrado, acabadinha de chegar, já tinha um imenso medo de te perder. Talvez a crença de é bom demais para me estar a acontecer ou serei merecedora deste Amor poderiam ser a causa... Não sei. Um medo visceral de perder assolava-me a alma.

E o que fazer com este medo terrível de perder? Sentia que me angustiava, que me aprisionava, mas não tinha como o resolver. E os dias foram passando, e os meses e fui tapando este medo nos confins do inconsciente para que a memória não me recordasse deste medo sombrio. E tudo aquilo que atiramos para debaixo do tapete não se resolve, acumula mais pó e vai formando um bolo maior.

E sim, alimentamos mesmo inconsciente os nossos medos até que eles se tornam mesmo realidade. Para que assim possamos encarar de frente o nosso "papão" e tratá-lo.  Esse medo já morava em mim há várias vidas e foi-me acompanhando até aqui. A perda não foi resolvida logo trago-a para experienciá-la e para a integrar. E como a vida é tão sábia. Tirou-me desde cedo o primeiro homem da minha vida, o pai. E seguiram-se com o passar dos anos outras referências masculinas da minha vida, o tio e o avô. Sempre achei que tinha uma boa relação com a morte, um certo desapego e aceitação. Um desprendimento natural às pessoas e situações. Aceitação, de que este é o ciclo da vida e que vai-se a forma física, mas a essência e o invisível aos olhos acompanha-nos sempre. E sim, sinto que os homens da minha vida me acompanham sempre e estão muito presentes em mim.

O que percebi é que para facilitar o processo exerço um certo controlo na forma como me relaciono, envolvo-me Qb, para que sinta Qb e viva Qb. Como se fosse possível controlar o processo... A certa altura a vida puxa-te o tapete e ficas frente a frente contigo.

Giro perceber as próprias estratégias armadilhadas que usavas para ti própria sem grande consciência. Não consigo estar muito tempo com as mesmas pessoas, senão farto-me. Estou cá para vocês, mas eu não estou para ninguém ou atiro umas migalhas, superficialmente para não me expor muito. Não me quero comprometer, que seca. Ah, ah, ah.... Assim custa menos se desaparecerem da minha vida. Dói menos, não me levam nenhum bocado. Como se isso fosse possível. As ilusões que criamos cá dentro, como defesas e proteção de nós próprios.

E as máscaras vão caindo e sem que tu controles... Vais-te dando cada vez mais aos outros, aliás, acho até que quanto mais tentamos esconder e parecer misteriosos, mais transparentes somos para quem nos vê. Irónico, não?

E tudo depende da perspetiva com que olhamos para o que nos acontece. Já dizia Lavoisier "nada se perde, tudo se transforma". A emoção de perda surge como oportunidade de navegarmos um pouco mais cá dentro e descobrir tesouros escondidos. Quando achamos que perdemos é porque sentimos que fica a faltar qualquer coisa em nós. Fiquei mais vazia, aquela pessoa ou situação preenchia-me e deixou cá um buraco. Deixou? Então agradece-lhe porque esse buraco já aí estava, a pessoa mostrou-te como se podia preencher, agora podes começar a fazer esse trabalho por ti e contigo! Brutal, não é!

As grandes lições que os homens da minha vida me deixaram foi "vive intensamente, caga para os outros. Curte a adrenalina da vida". Foram pessoas de excessos, só faziam o que lhes dava na real gana, aventureiros e sempre bem dispostos.  O meu avô tinha um gesto muito giro, quando alguém dizia alguma coisa ou o criticava ele sacudia com a mão o braço num gesto de "estou-me borrifando para o que estás a papaguear". Viviam ambos em mundos muito próprios muitos adoravam as suas maneiras de estar e muitos não podiam com eles nem à lei da bala. That's life after all.
Hoje consigo perceber um pouco melhor que o medo de perder asfixiou-me, fez-me viver aos soluços, sustendo a respiração, por querer controlá-la. Agora respiro um pouco melhor... Nada mepode ser tirado. Está tudo dentro de mim.... E o caminho esse está definido, só tenho de confiar que a vida me porá à frente os trilhos que preciso de percorrer. Quando encontras, jamais voltarás a perder... São as tuas partes. És tu :)

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