O bosque encantado



Esta manhã acordei com o corpo a dançar. Apesar de imóvel deitado sobre a cama, todo ele vibrava movimento. Tinha um dia pela frente, que se adivinhava cheio... Mas sem poder suspeitar como se revelaria.

E logo pela manhã começa a caminhada com destino à mãe soberana. O que não esperava era entrar num bosque encantado. Nestas caminhadas gosto do contacto com a natureza e de me ouvir. São longos percursos, em que as horas e os kms vão passando umas vezes a um ritmo acelerado outras em ritmo demasiado lento. Entre o amontoado de pessoas, há o silêncio que me acompanha e a voz que não se cala. Uma vezes está deliciada com o percurso, outras começa a fazer a agenda dos afazeres, o balanço de como está física e psicologicamente. E eu simplesmente observo a dinâmica de como essa voz fala comigo, se é doce ou áspera e como está.

Hoje levou-me para um bosque encantado, com flores coloridas, pedras e pedrinhas. A alegria e o humor manifestou-se e as plantas foram retribuindo com carícias. O toque no corpo uma vezes doce outras grandes vergastadas nas pernas e nas mãos. Brutas, pá! Depois de deixar o bosque encantado o silêncio voltou a reinar, sem emoção envolvida. Até que a voz começa a perguntar "ainda falta muito? Já estou farta de estar aqui. Doem-me os pés, as nádegas". E o caminho de repente começou a tornar-se monótono, parecia uma reta infindável. E começo a dizer à voz, bom se continuas assim, a coisa vai ficar complicada... E nós não queremos que o caminho seja penoso. Já percebi que é assim que te sentes, mas vamos olhar para outros detalhes também. E a pouco e pouco a voz foi-se abstraindo com a paisagem do caminho. Quando começa a ver a parte final do percurso, a voz volta a dizer das suas. " caramba, ainda falta a subida da mãe soberana, xiiii....tanto". Mas ao dar a curso já a voz se tinha desvanecido e quando deu por si já tinha chegado lá acima, e a voz irrompe "já?!".

O que se alimenta consome-nos, quando nos abstraímos, quando estamos apenas e só no momento, no presente, não há dor, cansaço, simplesmente aprecia-se cada passo dado. Quando vibramos o nosso som, a nossa música tudo vem ao nosso encontro para abrir caminho. E hoje do nada 2 senhores abraçaram-me, só porque sim. Acolhi-os. A voz disse-me "porque raios me vieram abraçar?" Ao que lhe respondi, porque lhes apeteceu, estava feliz a andar no espaço ao som da música, a estabelecer o reconhecimento de mim com o espaço ao som da música e senti-me em casa, pelo que receberam-me de braços abertos, da mesma forma que eu também me recebi de braços abertos.

E sim, hoje estou-me muito grata a mim, por me ter permitido ao novo de braços abertos, por me receber como o presente mais esperado :)

Comentários