Sempre presente




Hoje tive-te presente. Tenho-te todos os dias. Mas hoje ainda mais. Não podia deixar este dia em branco, sem te escrever, sem te celebrar.

Já lá vão os anos... Mas desde que tenho consciência de que gente sou, que este dia é sempre especial. Graças a ti, piso esta terra firme. Deixaste a tua semente, que germinou e que completa 34 primaveras daqui a umas horas.

Como é que alguém que nunca conheci se torna tão especial, tão conhecido dentro de nós. Giro! A força que o invisível tem em nós. É como sinto que a fibra e a força que tenho, a alegria vem tão de ti. Hoje celebro-te! Imagino o teu colo como seria... Os conselhos sábios e também os atritos, pois duas pessoas com personalidades tão fortes iriam certamente ter muitos choques. Como seria a tua criança rebelde e indomável.

Pergunto-me se te irias orgulhar de mim ou se me acharias apenas uma rebelde sem travões. Sinto que no fundo te orgulharias. Aliás acho que soltas umas valentes gargalhadas enquanto me acompanhas, pelo meu jeito desajeitado, pela forma leve como dou a volta às voltas que a vida me traz. Sinto que me mimas.

É hoje quero também mimar-te. Que saibas que eu sei que estás aqui. Sinto quando me dás a mão quando me rendo ao cansaço. Que me dás a mão quando estou alegre. É importante que saibas que eu sei que estás aqui. Que olhas por mim. Não sei se tu sabes... Mas quero que saibas. Por isso te escrevo. Para que me possas ler sempre que quiseres.

Os anos vão passando... E sei que a vida nos ocupa tanto, que as paragens são cada vez menores. Falo menos contigo. Deves sentir também a minha ausência. Desculpa-me por não estar mais vezes.

Quando era criança falávamos a todo o instante, brincávamos juntos... E agora já quase não conversamos. Ainda adolescente não passava uma noite em que não te fizesse o resumo do meu dia e te desse as boas noites. Depois vieram os namorados, as atividades, o trabalho e fui-me silenciando mais. A tua presença bastava-me. Mas as palavras também são importantes...e ultimamente têm saído nas datas que te evocam. Perdoa-me por isso. Sabes que sinto muito. Que te amo com toda a minha alma e o quanto te sou grata por tudo o que me permitiste e permites ser.

Graças a ti, à liberdade que me deste para crescer e ser eu mesma, sem modelos, nem exemplos de como deveria ser, fui construindo por tentativa /erro a pessoa que sou, com todas as qualidades e defeitos. Fui livre para ser, para cair, para perceber as minhas forças, mesmo quando achava não ser capaz e levantar-me renovada.

Realmente vocês os dois foram exímios no vosso trabalho :) deram-me toda a liberdade. Confesso que muitas vezes achei que era demais. Senti-me muito desprotegida, sem colo. Não tinha onde me agarrar...e tantas vezes quis-me agarrar, deixar-me estar quieta e ser apenas abraçada. Tantas vezes zanguei-me convosco, vos achei frios e insensíveis por não me verem, não me jogarem a mão. Sentia-me só e abandonada. E perguntava, porquê?

Hoje sei que fizeram o melhor trabalho que podiam. Deram-me tudo o que precisava para crescer. E estou orgulhosa...também não deve ter sido fácil cumprirem os vossos papéis para que eu pudesse crescer. É de um grande amor verem-me trilhar o meu caminho sem se intrometerem e verem-me caminhar, cair, levantar, cair e observarem sem interferir. O vosso papel também não foi fácil. E sei que muitas vezes...me secaste as lágrimas, acarinhaste o rosto e afagaste o cabelo sem que eu desse conta. Mas tiveste lá. Tantas vezes senti essa presença maior que eu. Sei que eras tu estavas lá a levantar-me, quando me faltaram as forças.

Obrigada por continuares aqui :) celebro-te hoje e sempre

Comentários