Escutar

Escutar. Escutar aquela voz que te guia. Que orienta os teus passos. Que acalma todas as ânsias e porquês ainda não revelados.

A mente está sempre em movimento, agora para a esquerda, agora para a direita. Será que os passos que estou a dar são os corretos? Quero as respostas já! E assim ora desoriento, ora oriento, numa luta desenfreada por soluções. Entre o certo e o errado, entre o bem e o mal. E em constante conflito lá anda esta mente a caminhar ora em galope ora em pausa, quando o cansaço vem e diz não consigo fazer mais.

Em vários momentos da vida conseguimos identificar esta trama que a mente faz connosco. Tanto desassossego...

Deixei de procurar, deixei de querer. Não, não me resignei, não baixei os braços. Deixei de lutar, apenas isso. Aquela voz sussurrada que teimava em não ouvir começou a ser mais audível, comecei a escutá-la e rendi-me à sua vontade. Verdade, não sei para onde me leva, por vezes as pernas ficam bambas por não perceber para onde me leva e o porquê. Mas logo se esvanece para dar lugar ao confia, rende-te, deixa-te levar.

Como é que se sonha quando de repente não queres ser nada? No nada há um potencial infinito de possibilidades. E se o sonho é dar-me à vida de coração, rendo-me a ele, para que ganhe forma e se manifeste da melhor forma.tenho rasgos que me orientam vai por ali...e eu vou. Não espero nada e espero tudo, pois vou em branco, para que possa ser preenchida.

Sou um instrumento, um canal, que veste esta pele de mulher, que honro, respeito e nutro da melhor forma que sei. Estou ao serviço de mim e partilho-me.

Sou movimento, sou paragem, sou vida, respiração. Sou parte, sou todo. Renasço e morro a cada instante. Sou voz e silêncio.

Em tempos achava que tinha de ser alguém, que tinha de ser ou fazer algo por mim e pelo mundo onde habito. Hoje percebo que o papel mais nobre que tenho é respeitar a vida que há em mim. O mais sagrado que tenho é permitir-me viver, respirar, sentir, experimentar. E é tanto que parece quase nada e o quase nada é tudo.

E cada vez que acho que me perco estou cada vez mais próxima de mim. E quando acho que me encontrei começo a perder-me.  É a pescadinha de rabo na boca. E é nos intervalos entre cada inspiração e expiração que se vive, quando há o silêncio e a paz para relaxar.


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