Perda


É difícil morrer... Deixarmo-nos ir. É preciso morrer.

Achamos que perdemos porque nos agárramos a qualquer coisa.Apegámo-nos, quisemos conter, segurar, guardar em caixinhas.

Nada nos pertence, ainda que tudo faça parte. Quando nos é tirado qualquer coisa na vida temos de deixar morrer. A dor é inevitável, temos de a sentir e abraçar, mas também deixá-la ir. É necessário fazer o luto, acolhê-lo, deixá-lo estar o tempo que for necessário. E depois abrir os braços à vida e vivê-la de coração aberto.

Quando perdemos fica um vazio, um buraco cá dentro que precisa de ser preenchido. Isto porque a nossa energia estava fora de nós e estava contida na situação perdida, seja emoção, a perda física de alguém ou o final de um relacionamento amoroso. 

A perda é também uma devolução a nós próprios. A oportunidade de resgate das nossas partes ainda inconscientes. Para que possamos ver-nos e perceber que tudo mora em nós, que temos a capacidade de curar, de nos preenchermos, sem que tenha de vir de fora esse alimento.

Se nos é tirado é porque precisamos que assim seja. A vida sabe sempre o que é melhor para nós, ainda que racionalmente possamos não compreender e aceitar. A vida é sábia.

Já é hora de se fazer o caminho de regresso a casa. A casa interna, aquela que está dentro de nós. Só aí podemos encontrar a nossa segurança, amor e paz. Quando fazemos esse reencontro, o que está fora reflete o nosso interior e estado. Vem a aceitação de tudo o que é, sem resistência, sem necessidade de explicação. E tudo é encarado com amor. Sim vêm os testes para que possas perceber se entendeste a lição e para integrar esse novo estado que te habita.

E esses testes mostram-te quanto de medo ou de amor ainda habita em ti, como está a tua segurança interna. Como está a tua fé. Quão inteiro e honesto estás contigo?

Na minha verdade, nada se perde, tudo se transforma, tudo são oportunidades para aceder a mais de mim, para trazer à superfície o que está escondido para ser iluminado. Sem a polaridade não me reconheço, preciso dela para tomar consciência.

Agradeço muito a tudo o que chamei perda na minha vida, foram benções disfarçadas que me permitem hoje olhar para elas com muito carinho e reconhecimento, por me terem permitido estar a fazer esta grande caminhada de regresso a mim, à minha casa interna. Permitiram-me que chorasse, que me abraçasse, que fosse mais carinhosa e generosa comigo. E o exterior devolve-me essa generosidade e abundância :)



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