Deixa-me





Deixa-me... Dizes tu. E ainda que contrariada, deixo-te estar por momentos, nesse teu mundo, amuada, com tudo e com todos, e principalmente contigo.

Respeito o silêncio, o beicinho que se forma e o lábio que treme, a suportar a lágrima que teima em cair. Há uma parte que se quer manter forte e outra desabar e chorar que nem uma desalmada, voltar a ser bébé e ser protegida no colo da mãe, onde tudo o que há é o colo e o mimo, protegida do mundo lá fora. Aí pode descansar, não há tempestades, está segura.

E o tempo passa e não passa. As memórias consomem, o corpo gelado pelo colo que não vem.está frio lá fora e o colo não vem. Entregue à sua sorte. A si mesma.  O orgulho não a permite dizer que precisa dela. Que aceita que as coisas não podem ser à maneira dela. Que não pode dominar.por mais que dê saltos, rebole e tente colocar as coisas à maneira dela, não é assim que funciona.

Não posso obrigar-me a gostar de ti, ainda que me faças bem. Sentimentos não se escolhe. Sentem-se.
Fazes-me bem, até me começares a fazer mal. E o que faço à minha pele que já se habituou a que gostasses dela. Tu és segura. Se vou para o mundo lá fora corro o risco de ser rejeitada, como já fui.
E depois, se mais ninguém me tratar como eu gosto. Tu já conheces os meus cantos. Apaparicas-me como eu gosto.

E se depois de ti não houver mais nada?

Preciso-me. Não é de ti que preciso. É de me precisar. É de me gostar. Sentir que me preciso. Aí nada mais me faltará. Terei-me.

E aí talvez, já não tenha medo de amar, porque tenho-me. Já não preciso de um colo estranho para me abraçar, quando poderei estar nos braços do meu amor. Eu mereço correr o risco de amar. De amar-te, ainda que possa ser escorregadio. Sei que é... Já lá estive, mas não suportei lidar com tamanha liberdade, a insegurança do não sei, de um dia de cada vez, a instabilidade das inúmeras fasesque o relacionamento passa. Eram demasiadas, e a insegurança abala, deixas se saber quem és.

O risco, a mudança, a instabilidade são os travões que nos impedem tantas vezes de partir à aventura de viver um grande amor.

Não desistas de mim... Dizes tu. Não desistas de ti, digo eu. Foi a maior lição que alguma vez podia ter aprendido. E afinal, foi abrir as portas a um ser maravilhoso que estava pronto para se apresentar, para se mostrar e revelar. Foi a grande descoberta, tinha desistido de mim e nesse instante resgatei-me. E abri as portas do coração para amar melhor. Estava a descobrir que já era inteira em mim.

Depois de ti, há um novo eu e haverá certamente um novo tu.

Dá-te colo!

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