O Amor liberta

O bendito amor vem sempre à baila ou não estaria ele impregnado em todos os poros. Fala-se de amor em relação com, pois é a manifestação do amor na forma, na forma como nos relacionamos.

Pois sim, principalmente nos relacionamentos amorosos, a forma mais íntima de chegarmos a nós, de nos vermos, em todas as faces. Se no início de uma relação há todo um encantamento de estarmos e sermos o nosso melhor e vermos no outro o melhor, quando o fogo da paixão acalma começamos a ver todas as faces, as nossas e as do outro. Nem tudo são rosas...e é aí que muitas vezes se inicia o conflito e a parte conciliadora, conceitos como tolerância e aceitação são chamados para que a paz possa reinar e possamos integrar em nós as diferenças ou as faces menos luminosas do outro e as nossas.

Costumo dizer que a relação amorosa são 2 seres que se encontram com papéis a desempenhar. Vimos cá para trabalhar, para nos tornarmos melhores, pelo que são muitos os desafios, para trabalharmos nesse sentido. As propostas vão-nos sendo dadas e vamos cumprindo as lições ou repetindo as propostas até que aprendamos.

De outra forma não chegaríamos tão dentro de nós, aquele espaço íntimo que muitas vezes está escondido no nosso inconsciente. É nas dinâmicas das relações que nos vemos, que vai sendo levantado o véu dos nossos dons e das nossas feridas. É aí que nos encontramos e tantas vezes nos perdemos também.

Sempre defendi a importância no relacionar do eu, tu e nós. Talvez porque também eu me perdi no nós, me dissolvi no outro e, claro está que a relação só poderia estar condenada a um desfecho, devolver-me a mim própria. E é aí que começa a busca. Pois se no embrulhado do nós estava, quem era eu afinal? Tinha-me perdido e precisava de me reencontrar. Foi um caminho de altos e baixos, mas muito rico, muito cheio de todas as emoções e sim encontrei-me. A partir daí nunca mais me quis largar.

Claro está que este encantamento por mim, me fez fugir a sete pés das dinâmicas de relacionamento amoroso, pois que não me queria voltar a perder, e essa era a memória que tinha viva em mim ainda. Então andei por aí no toque e foge, até que me deixei apanhar. Sem hora marcada, eis que o amor me bate à porta, aliás não bate, entra de rompante. É aí vem a memória de agora era tempo de fazer diferente, estava preparada para viver o eu, tu e nós. Talvez tenha exagerado um pouco no eu, mas o medo de me voltar a perder era tanto, que tinha de o manter bem desperto. Mas ainda assim a dinâmica relacional deu para sentir as 3 faces, para muitas aprendizagens. Para reconhecer os dons e para abrir feridas. É um caminho que se faz de mãos dadas enquanto elas quer estar juntas.

E quando deixam de querer estar juntas, o caminho continua a ser feito, apenas de forma separada. É esse é também o grande significado de Amar. Amar é querer estar junto, mas também é liberdade. É respeitar o outro e querer que ele seja feliz, mesmo que isso signifique que faça um caminho diferente e longe de ti.

Amar é libertar. É continuar a amar e pôr esse amor em tudo o que se faz e em tudo o que é. É a essência a manifestar-se no mundo e para o mundo. É partilhar-se, entregar-se,  render-se e confiar na vida. E nessa libertação permitir que a cura aconteça. Pois que, o desfecho de uma relação é também a oportunidade de resgate de si próprio, é a devolução à condição de estar só, e conviver com esse ser de forma amorosa e harmonizá-lo. É uma devolução às entranhas, para que se confronte com as mágoas, os medos e se torne íntimo de si próprio. Agora já não há o outro para continuar a espelhar e a manter a dinâmica em processo. Claro que há outro tipo de dinâmicas e relacionamentos, mas não o amoroso. E quando o que fica no desfecho de uma relação é Amor, é nessa vibração que o trabalho vai continuar a ser feito até que fique curado e possa continuar a jornada a trabalhar no que ainda precisa.

Outras vezes, o relacionamento amoroso acaba e é logo substituído por outro novo, que estava logo ali à porta, à espera para entrar. Não é certo nem errado, é o plano que a vida tem preparado para cada um. Há momentos que temos de trabalhar a solo outros em par. E a vida é sábia. Dá-nos as propostas perfeitas para que possamos abrir os olhos e ver-nos. Às vezes temos mesmo que repetir várias vezes a mesma proposta para aprender a lição.

Mas é através do Amor que libertamos o que está cá dentro trancado a sete chaves, e vamos abrindo as portas do coração para nós, e permitindo que os outros nos vejam também e o melhor vamos partilhando-nos de forma mais inteira.






































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