Ainda que doa, doa-te





A vida dá-nos tudo o que precisamos. Ainda que não compreendamos, ainda que queiramos muitas vezes afastar o tal cálice amargo e doloroso.

São tempos de limpeza e de purga. Estamos todos interligados e nada está fora de mim. A realidade do outro que chega até mim a mostrar a morte, a dor e o luto é também uma parte de mim, que reconheço e íntegro, chorando também as minhas dores.

As circunstâncias não se controlam, apenas como lidamos com elas. E ensinam-nos tanto. Colocam a nossa vulnerabildade à flor da pele. Relembrar-nos o quanto nos sentimos frágeis, o quanto a vida carrega nas nossas feridas e que parecem não ter fim. Queremos que a dor passe rápido e resistimos e a vida carrega com mais, como se não chegasse já uma ferida aberta e a vida parece trazer mais.

Passamos por todas as fases. Não há consciência que resista a elas. A consciência nada mais é do que o estado de atenção. Olhares-te em perspetiva. Tu não és as tuas dores, ainda que as sintas na pele. Mas há momentos em que é inevitável, tu assumes que és as tuas dores, parece que o mundo vai desabar. Nada faz sentido e tudo o que queres é jogar tudo para o alto. Teres pena de ti próprio. És a pessoa mais infeliz do mundo e tudo te acontece. Metes tudo em causa, na certeza de que não queres mais estar aqui.

E a tua atenção observa este diálogo interno de vítima contigo próprio. Percebe que esta luta existe na tua mente e que faz muito barulho. Deixa-a falar, que liberte todos os dramas. E aí quando não houver mais nada para dizer, ela se rendirá ao silêncio. Ao deixar ser e acontecer, como a inevitabilidade que é a condição de estar vivo.

É necessário purgar, deixar vir à luz do dia tudo o que está gravado nas memórias celulares, os medos, as dores. E quando a mente entra em luta e as emoções vêm também à superfície na luta que não se apazigua, vem o corpo físico ajudar a libertar através da doença. É a inteligência energética a funcionar no seu melhor, a trazer a cura. Só tens de permitir e confiar.

Depois da tempestade vem a bonança, os pólos equilibram-se sempre. Não temos de compreender tudo, nem os porquês, apenas permitir que aconteça.

Aquilo que tens dentro manifesta-se fora, seja através das circunstâncias exteriores que atrais, seja através do que manifestas. Abre-te à vida. É nesse estado de abertura e de permissão que a vida te guia e que o criador te orienta. Ainda que doa, doa-te.

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