outono: let it fall




Chegou o outono. É tempo de deixar cair o que já não nos serve. Limpar, reciclar, deixar morrer, para que neste tempo de limpeza possamos carregar energias e prepararmo-nos para renascer.

A eterna mudança é uma constante da vida. Está intrínseco. E tantas vezes nos tentamos agarrar ao conhecido, aos velhos padrões, às mesmas formas de faze, rotinas, esperando contudo resultados diferentes.

Se não mudares de estado, se não implementares novas coisas na tua vida, pois receberás mais do mesmo. Os milagres acontecem, mas tu és o principal protagonista da tua história. Tens um papel ativo nela, e és responsável pelas tuas escolhas.

E para mudar há que fazer o luto. E o luto exige a passagem por vários estados. Primeiro é a negação. Não eu estou bem e confortável como estou, não consigo pensar nem fazer diferente, eu sou assim é sempre fui assim. Coitadinh@ de mim. Esta situação está a acontecer-me porque os outros são maus e eu bonzinho.  O papel da vítima que estamos tão habituados a preconizar. Depois desta fase vem a revolta. A raiva, a irritação. Apetece espancar o mundo inteiro, ninguém me compreende, não me encaixo, não quero aceitar a realidade como é. Não consigo sair deste registo. Depois vem a resignação. Desgastei todas as minhas forças a esbracejar que me conformo com o que é, mas com uma tristeza a acompanhar a realidade. Tipo é a vida. É o que é, tenho de aceitar que vou ser infeliz. Depois vem a morte. Atravessar a noite escura que engloba a negação, a raiva e a resignação. E nesta morte tudo perde o sentido, é um vazio que habita o corpo e a alma. Uma rendição, uma entrega ao alto, libertar. E é aqui que começa a cura, que vamos tomando consciência nesse vazio que se respira. A mente perde a força para dar lugar à voz do coração, a uma força motriz que não se sabe bem de onde vem, mas que impulsiona, que dá força e mantém a máquina a funcionar. E começa a abrir. A respiração começa a ser consciente e as pequenas coisas começam a ter sabor. Há uma energia boa de gratidão por se estar vivo e valorizar o momento a momento.  E é nesse estado de gratidão que advém um novo, a aceitação do que é,  com a perceção de que o que foi permitiu-nos estar aqui, hoje e agora e que contribuiu para a nova pessoa que nasce.

E é nessa compilação de estados, de estórias que vamos construindo os puzzles e chegando mais próximos do que é importante, o contacto com a essência, a simplicidade. Largando o lixo, as muletas, as desculpas, os velhos padrões. E permitirmo-nos morrer e renascer as vezes que forem necessárias nesta vida única, especial e tão nossa.


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