Confiar é fazer-se ao caminho



Momento de fim de dia...paragem para relaxar. E-mails vistos e respondidos e feed do facebook visto, comentários feitos. E ainda que o dia tenha começado cedo, pelas 7h, o meu relaxamento passa por escrever ou ler. Estranhas formas estas de relaxar, mas são as minhas. Ah e a acompanhar tenho a minha última aquisição de música, o cd de Dilana, que vai marcando o compasso das palavras que saem e marcando o ritmo.

Gosto do novo. Um livro, um cd, uma peça de roupa, uma atividade nova, pessoas, cidades fazem-me vibrar como uma criança com uma prenda nova pronta a abrir, a descobrir. A querer saber do que o mundo é feito, do que está lá dentro.

Tenho em mim o entusiasmo de estar viva. De partilhar, de partilhar-me. Palavras, adoro-as pelos diferentes sentidos que lhe podemos dar, por serem tão infinitas, por poderem construir e desconstruir, por poderem expressar histórias, dar vida, transmitir tanto. Escrever é uma necessidade para mim, é um prazer, é poder dar-me espontaneamente, sem obrigação, sem propósito, ele acaba por ser uma consequência, um resultado.

Eu só tenho de cumprir a minha vontade no momento em que acontece e deixar que as palavras se soltem e saíam por aí à procura do seu destino.

E as palavras dizem-me tanto, dizem-me como vivo o meu dia a dia, revelam-me sem querer. Hoje verbalizava para fora, aquilo que já há algum tempo tenho vindo a dizer-me a mim própria nas longas conversas que tenho comigo. É giro criares as tuas cenas, entusiasmas-te e metes para fora como a prenda mais esperada que veio até ti, mas tens trabalho a fazer. Tens de brincar com a prenda que chega até ti. Tens de lhe dar vida, pôr lá a tua energia.

A primeira pergunta que me veio foi logo, como faço isso? Num sei. Até que a pouco e pouco fui percebendo que um projeto é como uma planta, metes as sementes e depois tens de cuidar todos os dias, regando, nutrindo para que cresça saudável. E assim começam os compromissos :)  É preciso compromisso com a minha cena, dar-lhe todo o meu coração, corpo e alma. Todos os dias fazer alguma coisa com e para a minha cena.

Seja escrever, ler, estudar e aprender coisas novas, seja divulgar e fazer mais trabalho. Mas todos os dias ter esse foco e essa intenção. Ainda que possa não saber o como vai acontecer, qual o caminho, eu vou fazendo a minha parte. Com a humilde confiança na vida, com preserverança, arriscando, adaptando-me às mudanças centrada no meu propósito de bem maior. O propósito que vai para além da personalidade de alimentar uma necessidade qualquer do ego, o propósito de servir um bem maior, de me doar para melhorar o mundo que sou e que habito.

E se por vezes tenho dias, sim todos temos dias, em que as estruturas abanam e lá vem o desânimo, outros há que nos inundam de força e coragem e nos dizem, estás no caminho certo, o do coração, que em sussurros te vai dizendo continua e te mostrando sinais, deixando mensagens soltas em locais imprevistos, e em pessoas que se cruzam contigo por breves segundos no passeio da rua.

Este fim de semana cruzei-me com umas belas dezenas de pessoas vindas de várias zonas do país e até de outros continentes e no meio da multidão de pessoas fantásticas, sonhadoras, concretizadoras, cruzei-me com uma senhora linda no almoço de domingo. Esta marcou-me especialmente. Durante o almoço sentada naquela cadeira, umas três pessoas sentaram-se a meu lado e meteram conversa comigo, a partilharem os seus projetos e experiências. E eu ali maravilhada, porque adoro histórias, pessoas.

E a última pessoa,  mulher mãe de 2 filhas, começou a contar-me como tinha chegado ali àquele
festival de empreendedores, e que também ela tinha um sonho e que era muito difícil, por ser mãe solteira com poucas condições. E que estava ali graças à generosidade de pessoas que lhe disseram para ir. Estava grata por ter sido muito bem recebida e queria ajudar e dar o seu contributo também. Não sabe ela o tamanho do contributo que trouxe àquele grupo de empreendedores. A mim trouxe-me uma grande mensagem e acredito que tenha deixado a todos com que se cruzou. A sua simplicidade, generosidade eram imensas, transbordava, sem que nada tivesse de fazer. Quando me começou a contar o que fazia, sempre identificando que era difícil e emocionada por achar que não iria conseguir, por ser mãe solteira e ter de prover o sustento às filhas, fui-lhe dizendo, mas tu já fazes, já abriste o caminho e estás a dar passos, por isso estás aqui hoje. E sim vieram as filhas, e que exemplo para elas ter uma mãe como tu, que arregaça as mangas e vem à luta pelos sonhos. Uau! Esta mulher mostrou-me o que era dar tudo e estar de coração aberto, mas ainda assim achar que não era o suficiente que precisava de dar e fazer mais. E quantos de nós também já damos tudo o que temos, mas por não nos olhamos, por não nos valorizarmos achamos que não valemos, não nos. reconhecemos.  A capacidade de ir à luta, pedir ajuda e permitir-se ser ajudada é brutal. Humildade em reconhecer que se precisa e aceitar.

Acredito que me vou voltar a cruzar com esta pessoa e vê-la em grandes vôos. É claro que ela merece, como todos merecemos e temos potencial. Mas o que ela me mostrou foi a garra de uma guerreira, ainda que um pouco assustada por achar que é difícil., mas essa barreira será ultrapassada, porque mesmo assustada ela continua a caminhar e a fazer a sua parte.

Obrigada por me inspirares :)

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