Tudo o que é

Gosto das metáforas da vida a caminho, viagem e dança. Estes conceitos estão associados a movimento, a uma mudança de estado, seja do ponto A para B, seja no corpo. Tudo implica mudança, transformação.

Nada permanece no mesmo lugar, tudo muda. E quando estamos em viagem este "movimento" torna-se mais consciente e presente. Estamos num local desconhecido, tudo é novo. Não se encaixa no padrão de rotinas que temos no nosso dia a dia, quando estamos em casa.

O ar que respiramos é diferente, a água, a cultura, a língua, a comida e tudo e tudo. E à partida quando viajamos sabemos disso e vamos recetivos a isso. Absorvemos tudo com o espírito de uma criança que parte à descoberta e é curiosa em querer experimentar, conhecer.

E quando essa criança vai bem desperta recebe tudo de braços abertos. Nada é bom ou mau, tudo é, sem julgamento perante a realidade que se apresenta. E nessa realidade tudo pode acontecer.

Aqui nesta viagem, tudo me tem sido apresentado por contrastes. De manhã chove, com trovoada e inundação e à tarde faz sol é um calor enorme. Tem outros dias que de manhã faz sol e à tarde faz temporal. 

A luz que acaba e fazer malas à luz da vela. A garagem eletrónica que não abre e não conseguir sair com o carro. E tudo se resolve, as alternativas logo ali, a pedir ajuda, as soluções a virem. O pneu do táxi que fura antes de ir para o aeroporto. O vizinho na rua que apoia o motorista enquanto ele muda o pneu. Os bilhetes de avião tratados um dia antes e check in feito. Pessoas que se ajudam. Malas que se perdem dos colegas do Rio de Janeiro, pessoas que se ajudam emprestando e colaborando com o necessário. Uma anfitriã que nos cuida, que nos dá cama, que nos alimenta e passeia connosco. Pessoas alegres, que cantam, que ouvem música alta, que cumprimentam, que falam, que riem de rosto aberto. Que se metem contigo, são espontâneas, brincam e elogiam o teu sotaque diferente "nossa que sotaque lindo". Dinheiro que acaba, mas que logo a seguir vem soluções. É o autoclismo que deixa de funcionar depois de deixares lá um "presente" e teres de chamar a manutenção para resolver a questão. É o banho de rio, é o banho de piscina. É acordar de manhã, abrir a porta e ter cavalos a comer relva à tua frente. É comer tantos sabores diferentes. É ter diarreia e gases. É fazer uma série de amigos. É plantar uma árvore. É chegar a casa e ter uma borboleta na sala. É fazer as malas.

Não é mau, não é bom! É o espetáculo da vida a fazer o seu show.

O quanto gastamos da nossa vida a alimentar comédias e dramas. Esta foi a história. "Nossa o que aconteceu e depois mais isto e se tivesse ou não tivesse feito aquilo teria acontecido Yz". E para além da construção das histórias estão as emoções, o que senti, como reagi no momento da ocorrência. Para isso viver no espetáculo e como observador do seu próprio show, apenas observando, dá novos significados para que possamos ser mais simples e retirar mais camadas de casca da cebola.

Comentários