Persistir



Tantos são os dias em que tudo parece desabar, em que a paciência se esgota, em que as forças parecem falhar. Os eventos exteriores parecem não ajudar e o mundo parece ter-se voltado contra nós.  E tudo o que apetece é desistir. Entregar os pontos. Há uma revolta que se instala, uma angústia que tira a ação e só apetece ver os dias a passarem, à espera que tudo passe. Que venha um milagre, um passo de mágica que mude tudo, sem que nada tenha de fazer.

Outros dias há em que prefiro fazer de conta que está tudo bem. Coloco o melhor sorriso, para não mostrar o quanto estou a ruir por dentro. E assim vou seguindo os dias com uma espécie de conflito interno, com uma comichão que de vez em quando se lembra de vir para me incomodar e atrapalhar.

Todos e cada um conseguem identificar esta comichão que ora vem com maior ou menor periodicidade e quando se instala tem um sabor de eternidade, parece que nunca mais vai embora. Há a impaciência, o desassossego e incompreensão.

Mas afinal eu até tenho um propósito, estou feliz e grata pela vida que tenho, mas há qualquer coisa que não me deixa estar bem a tempo inteiro, que motivos tenho para estar com "esta comichão"? Ou então, eu até tenho consciência e entendimento sobre o meu processo individual, estou numa caminhada de desenvolvimento pessoal em que me trabalho constantemente e faço o meu Tpc e ainda assim tenho as "crises de impaciência, revolta e falta de sentido temporário.

A frase que me ficou marcada de infância foi "a vida são mais espinhos do que rosas", até que um dia resolvi mudá-la para "a vida são rosas e as rosas também têm espinhos". Há a beleza, a plenitude, o amor, mas também há o outro lado, da dor, dos desafios, do vazio, do feio. E tudo faz parte da vida. E tudo passa. Nada permanece, nem o que catalogamos como bom ou mau. Simplesmente, o ser humano, nós quando estamos nas situações vivemo-las, sentimos e apegamo-nos ao que acontece, ficamos lá apegados à experiência, à memória e repetimos essa imagem/memória vezes sem conta no nosso pensamento para a manter presente e viva e claro não estamos de todo no momento presente, mas nas histórias que a nossa mente tem na tela imagética e claro que isso vai refletir-se nos nossos corpos e no momento presente, com a fisiologia, com palavras, na forma como nos alimentamos e agimos em cada momento.

A vida vai sempre apresentar-nos desafios, pois ela é movimento, vai despoletar emoções diversas, comportamentos, decisões. E tu também tens de te manter nesse movimento, permitindo-te, estando recetiva. Quando tentas agarrar, conter, suster para tentar compreender, dar lógica e controlar o processo travas o curso, e nada se controla, nem o que tens dentro, pois que não consegues controlar as emoções, elas vêem. Observa-as, permite que elas se manifestem. Se as engoles e travas elas vão implodir (vais somatizar) ou vais explodir (vais reagir contigo ou com o outro, o que tens contido).

É claro que somos humanos e nem em todos os contextos sentimos liberdade para nos expressar e a nossa matriz de educação não nos educou neste sentido. O trabalho passa pela presença no momento presente, observarmo-nos, estar atentos e ir percebendo os nossos mecanismos internos de defesa, ataque, de sabotagem e ir corrigindo com a nossa verdade, percebendo quais os nossos medos, inseguranças e ir construindo com muito amor, novas bases de segurança e de compromisso connosco. Ser a nossa própria mãe que dá colo e mimo, qua abraça, protege e que conforta com palavras de amor e alento. Ser o nosso próprio pai que dá confiança, que é um pilar de força e de ação, que desbrava o caminho com a fé na abundância e que diz que és capaz e mereces. Quando integras estes dois papéis em ti, independentemente de como foram os teus progenitores ou quem desempenhou esse papel contigo, essas duas vozes em ti, o teu feminino e masculino vais construindo um equilíbrio interno que te orienta e te dá paz. É um trabalho diário e que exige uma atenção plena sobre ti mesma.

Afinal a tua relação contigo mesma é um caso de amor para a vida inteira e tens de nutri-la todos os dias, como um jardim que precisa de ser cuidado, regado, podado para florescer e dar os seus frutos, respeitando os ciclos da natureza que vão ditando as várias fases de transformação pelas quais a vida passa. E sim tens de assistir, participar e persistir.

Paciência, benevolência, Aceitação, compaixão são virtudes que se desenvolvidas contigo, ajudam muito.

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