Transforma-te

Mudanças. Há uma parte de nós que anseia por mudanças, há uma espécie de insatisfação quando tudo se mantém igual durante um certo tempo, parece que deixa de funcionar ou então começa a haver uma reflexão sobre o que é, o que sempre foi e a avaliar e vem a inquietude de que algo precisa urgentemente de mudar ou tudo ameaça ruir. E perante esta constatação vem a busca, a procura de soluções seja em que área for, profissional, pessoal, amorosa, família.

 E o engraçado é que apesar de existir a procura, o tal passo que nos tira do lugar estático onde estávamos para procurar respostas/ soluções, quando elas começam a vir qual é a nossa primeira reação?

 RESISTÊNCIA! Ah, pois é. Estranha resposta esta a nossa. Enquanto andamos na ânsia da procura de soluções, a mexer nas questões, já estamos em movimento, já demos um pequeno grande passo, sair do lugar onde estamos, mas daí a mudar, já é outra conversa.

 É um estranho paradoxo. O ser humano precisa de mudança constante, é a condição natural da vida, contudo, também lhe resiste, pois causa desconforto por ser nova. Somos seres de hábitos, rotinas que também são importantes para nos dar raízes e senso de segurança. Mas as raízes vão crescendo e alargando e chega uma altura que temos de mudar para um vaso maior, com mais espaço para que o nosso ser possa crescer com espaço e harmonia. É claro que quando se muda para um vaso maior como uma planta, primeiro sente desconforto, é uma casa nova, com nova terra, tem de se voltar a ambientar, é tudo lhe parece demasiado grande, leva algum tempo até se aconchegar e habituar ao novo lar. Parece até que morre um pouco, pois fica vulnerável com a mudança, murcha um pouco, perde algumas folhas e depois volta a ficar viçosa e a crescer com mais força.

 E nós humanos também somos assim, resistimos, debatemo-nos, lutamos porque não queremos mudar, ainda que possamos assumir a vontade e a necessidade de mudar. O arranque e a iniciativa pode até ser boa, mas depois vem a memória do que é conhecido e confortável e lá damos o passo atrás para continuarmos a estar no lugar conhecido e confortável. Os primeiros dias e semanas são fantásticos, mas depois manter... Isso já é outra história. Os inícios do ano são fantásticos, tantas resoluções/ objetivos. "É este ano que vai ser", que vou para o ginásio, fazer a dieta, deixar de fumar, implementar novas dinâmicas no trabalho. E vai-se com a força do principiante cheio de vontade... E chega-se ao final do primeiro mês do ano, já começam a faltar as forças para manter o compromisso feito connosco. Vêm as desculpas, o adiar... E falo dos mais corajosos que partiram para a ação, pois há aqueles que ainda estão a planear qual o mês ideal para encetar a mudança e ainda estão a planificar dentro, como haverão de expressar na prática a coisa. Há quem defenda que é necessária a intervenção de um profissional, um coach que acompanhe e ajude a manter a disciplina e compromisso com a mudança desejada.

 Eu digo sim é necessário compromisso, disciplina, mas acima de tudo, vontade de morrer para o que somos agora, para voltar a renascer. É preciso abandonar as velhas memórias e criar novas. Com ou sem profissional é possível, pois depende sempre de ti. Costumo dizer é preciso humildade para pedir ajuda e abertura para se permitir receber. A mudança é tanto ou mais desconfortável conforme o
tamanho da minha resistência a ela. E claro que traz dor, é uma morte que se processa cá dentro, temporária. Não há mudança sem TRANSFORMAÇÃO.

 Este processo de transformação equivale à "noite escura" que se atravessa, pois que há um vazio, um espaço ainda não preenchido que não sabe bem no que se vai tornar. Pode haver uma expetativa sobre o que se pretende, mas na verdade não se sabe bem como se vai revelar. E esse desconforto incomoda, tem o seu tempo próprio, que pode parecer uma eternidade.

 Por isso, tantas vezes ficamos pelo caminho, pois não o queremos percorrer. Há todo um desconhecido que se pode apresentar como um "monstro papão", dependendo das crenças de cada um. Talvez por isso a vida muitas vezes ajude e dê uns empurrões valentes à malta, trazendo circunstâncias de vida que nos "obriguem" literalmente a transformar-nos. Assistimos a pessoas que passam por processos de doença, luto, separações, desemprego e outras que as empurram para a transformação e que se tornam pessoas super inspiradoras para outras.

É o convite da vida a dizer que é assim é que não precisas de passar por situações tão dolorosas para te transformar. Aceita o convite quando ele te bate à porta pela primeira vez.

 Se olhares e observares as pequenas coisas no teu dia, apercebes-te da simplicidade e agilidade com que transformas as coisas à tua volta e os resultados que obténs. Quando cozinhas transformas alimentos numa refeição, alteras o seu sabor natural dando-lhe um novo, adicionas temperos, texturas, sabores. Já és um alquimista por natureza. Assume esse teu papel e transforma-te a cada momento, por mais que não tenhas como adivinhar o resultado.

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