E quando já não há mais nada?

Quando deixas de querer, quando deixas de controlar... A vida acontece-te.
No palco do improviso onde humanos se movem como peças de um jogo, podia dizer um jogo de xadrez, mas aí move-se a estratégia, há o objetivo do jogo a ser ganho. No jogo da vida o prémio é o crescimento, a superação, a aceitação do que é, o desnudar a pele dos filtros que carregamos. Os tabus, os preconceitos, as fragilidades, o ego.

E dou por mim como peça do jogo e espetadora, devolvida à minha própria nudez perante tudo o que me toca. E quanto mais me dispo, mais tudo me toca, e eu permito-me ser tocada. E neste striptease da vida, do tirar a roupa, peça a peça vou percebendo o incómodo, vou sentido o frio, a insegurança, o medo, a exposição e encaro-me frente a frente assumindo que sinto, como estou e isso aquece-me por dentro, ainda que nua esteja.

E a loucura é que outros vão-se também despindo ou não estaríamos todos no mesmo jogo, e nessa vulnerabilidade vamos acrescentando-nos, completando-nos. Todos somos iguais, feitos da mesma matéria, bebendo histórias diferentes, mas com a mesma génese.

E quando nos assumimos abrimos portas ao infinito de possibilidades e cooperamos e ajudamos e amamos, porque afinal é o que temos dentro.

Hoje fui inundada de estórias, as dos outros, e as minhas através do espelho do outro. Devolvida à mim mesma, sempre. E ainda que feridas tivessem sido tocadas, a honestidade de me olhar e ver encheu-me de mim. E haverá melhor do que preencher-me de mim?

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