Uma luz brilha na escuridão...

"A fé move montanhas". Esta expressão é sobejamente conhecida e usada como motor impulsionador para acreditar e para a ação. Deparei-me hoje com um acrescento a esta expressão "a fé move montanhas, mas sem amor de nada vale". Tão simples e tão avassalador.

Vamos colocar então agora o contexto onde vi aplicada esta expressão. A ver um filme sobre os descobrimentos e a colonização das terras indígenas e o papel dos jesuítas para a conversão dos mesmos ao cristianismo e do outro lado os mercenários que escravizavam os índios, os tratavam como animais selvagens. E para juntar à festa a luta pelas terras. Os jesuítas tiveram um papel muito forte junto dos povos indígenas, criando comunidades muito fortes e auónomas, o que chateou o poder vigente, que não descansou enquanto não as destruiu. Várias histórias e lições contidas neste filme.

Marcou-me a história do mercenário que se converteu a jesuíta após matar o seu irmão por se ter apaixonado pela mulher dele. Ora perante este assíssinio o mercenário começou a desenvolver sentimentos de culpa e começou a desistir de viver, até que um padre jesuíta o confronta com a vida, mostrando-lhe que tem oportunidade de se redimir. Ele aceita ajudar nas missões e carrega consigo a sua própria penitência, carregar o fardo da armadura, armas que usou na sua vida desviante. E durante muito tempo a subir montanhas, atravessar correntezas dos rios ele carregou o fardo, até que um índio lhe cortou a carga do fardo e o integrou. A partir daí serviu, trabalhou e ajudou a construir uma comunidade até que sentindo o apelo da fé se quis tornar padre. E é aí que o jesuíta que o puxou para vida lhe falou da importância do Amor. Podes ter fé e mover montanhas, subir vales e atravessar rios, superares-te, penitenciares-te, mas sem Amor de nada vale. É o Amor que move a vida.

E por amor este e os outros jesuítas entregaram a sua vida à causa que amaram e viveram, lutaram e estiveram ao lado dos índigenas quando estes foram invadidos pelos brancos.

No outro dia assisti a uma entrevista de Carl Jung onde lhe perguntavam se acreditava em Deus, e ele responde sabiamente que era uma pergunta difícil de responder, pois ele não podia acreditar em algo que sabe que é. "Eu simplesmente sei, não preciso de acreditar". O jesuíta líder, no momento em que se sabe que a missão vai ser invadida recusa-se a lutar, respondendo que o Amor não é pela força, não pode ser. Aceita o destino encarando a situação em oração com a comunidade de frente, erguido. Ele sabia, que Deus estava com ele e entregou-se com Amor, ainda que o destino tenha sido a morte, a sua alma jamais morrerá e muitos serão os mortos que continuam vivos e vazios de amor.

E esta história parece que mora há muito tempo lá atrás na história que todos condenamos e que até o papa já veio a público pedir desculpa pelas atrocidades que o cristianismo praticou no passado em nome de Deus. Também os homens em nome da sua ambição e da dominação do mundo praticaram imensas guerras e batalhas, muito sangue derramado. Mas e se olharmos para a história hoje, ela repete-se. De uma forma "mais civilizada", sem derrame de sangue, mas mais agressiva. Uma morte lenta que entra devagar na pele, com a subversão de valores, com o controlo das massas sobre o que pensar, o que fazer e o domínio pelos agentes que detém o poder económico. Há um poder invisível que domina e controla as sociedades e as forças políticas que ditam as regras de acordo com a gestão de pressão que vão sentindo das várias frentes.


Será que estão vivas as sociedades onde vivemos? O que as move? O que me move? O que te move?

No final deste filme, as comunidades indígenas criadas pelos jesuítas foram destruídas. Sobreviveram apenas algumas crianças de tenra idade, que partiram daquele local para o meio da selva, distantes daquela tragédia...

E acaba com esta passagem bíblica extraordinária  "Uma luz brilha na escuridão, e a escuridão não conseguiu apagá-la."(João 1.5)

O que me leva a pensar, a vida pode apresentar inúmeros desafios com muitos altos e baixos, mas o brilho da luz que transportamos jamais poderá ser apagada, por mais longe e pequena que possa parecer essa luz, ela está sempre lá. Somos feitos de Amor e por mais que nós possamos ter esquecido que somos Amor, enquanto há vida, há sempre oportunidade de nos recordarmos da luz e do amor que somos. É algo que sei.. do fundo do meu coração.

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