A minha relação

Há uma espécie de inércia que me aprisiona. Deixar-me estar. Só porque sim. Há uma parte que aceita e quer usufruir desse estado e deixar-se estar.  Mas a realidade chama e pede para fazer. As distrações são tantas que empurram para o não fazer. E a vida real pede presença, que se cumpra.

É o limbo das escolhas, do que é prioritário e como negociar entre as vozes que falam e que querem comandar. É reconhecer que ambas existem e estabelecer acordos para que ambas fiquem satisfeitas.

Há uma parte que quer descansar outra que quer trabalhar. E como o trabalhar também conhece faces distintas. Há um período para fazer, outro para reavaliar, estudar, esperar, avançar.

E a questão que incomoda é, mas eu estou a fazer a minha cena, o que me apaixona, porquê a inércia?    O estar vivo implica picos, movimento como um eletrocardiograma, como o movimento de cada respiração em que acontece uma contração e desconstração. Aceitar o fluxo sem que o fluxo te controle, ou seja, não te agarres ao estado que ocorre, apenas assiste-o e honra-o.

Só assim as mensagens, as lições te vão chegar. Quando há conflito a mente fica turva e não consegue filtrar, escutar o que está a ocorrer. O juiz que mora dentro está constantemente a interferir a dizer o que é certo e errado.  E vêm os sentimentos de culpa, ressentimento, irritação e preocupação criar tensões, aprisionar-te.

É preciso trabalhar a paz. Desenvolver a harmonia e serenidade dentro. Criar estratégias de negociação e neutralidade perante as emoções. Se uma parte de mim quer desfrutar da preguiça eu tenho de lhe dar esse espaço. Se parte de mim tem de trabalhar também tenho de lhe permitir. Conciliar, nutrir, escutar as necessidades que me habitam e dar-lhes resposta.

Equílibrio é o caminho do meio. É responder habilmente ao que sinto, penso e faço, viver na minha verdade. Servir-me. É a única responsabilidade séria que tenho na vida. A forma como respondo ao exterior será sempre em consonância de como me sirvo. Se estiver em carência ou excesso na forma como me sirvo assim vou sentir "os pesos" da obrigação de carregar muitas responsabilidades de cuidar ou servir o outro, pois que não me sirvo adequadamente. Ou em excesso, estou tão centrada nas minhas necessidades e em satisfazê-las, fachada no meu umbigo que não sou capaz de me doar, de servir o exterior. É claro que para viver o caminho do meio temos de por vezes ir aos extremos, viver ambos os pólos para que possamos corrigir, ajustar e encontrar o nosso centro.

Consciência é entendimento, ela acontece quando é vivida, integrada na experiência de vida. Há uma parte de nós que racionalmente e mentalmente percebe o que está a acontecer, mas enquanto não for integrada na experiência, em todos os poros da pele, a transformação não se dá.

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